com a vice-primeira-ministra da China, Wu Yi. Quer resultados
práticos que, apesar das promessas, não está vendo. Deu a entender
que o governo está sofrendo pressão para agir mais firmemente, mas
espera que o diálogo entre ambos supere os impasses. Adianta? Não.
Ele saiu após encontro de dois dias com uma acanhada declaração de
"conseguimos resultados tangíveis... passos incrementais", mas o que
obteve foi apenas pequena abertura no sistema financeiro chinês e, eu
ia esquecendo, mais vôos para Pequim.
COMO DIRIA GUIMARÃES ROSA, NONADAS
Como sempre, a China promete acelerar a desvalorização do yuan. "Nós
falamos, eles ouviram e concordaram conosco, em princípio, com o
ritmo das mudanças. O que faz a diferença é o quanto eles vão
avançar", disse Paulson, ainda no mundo das generalidades dominadas
pela expressão "em princípio". "No mesmo dia, numa espécie de
resposta, o governador do Banco da China, Zhiu Xiachuan, afirmou que
continuarão "flexibilizando" a taxa, mas conforme uma cesta de moeda,
o dólar, o euro e o iene. "Está claro que eles não vão mover nada",
refutou o deputado democrata Tim Ryan, autor de moção que apóia o
pedido de empresas americanas para impor tarifas sobre importações
chinesas.
A CULPA É SUA
A vice-primeira-ministra, que levou 17 ministros, acha que a culpa
pelo déficit americano é um problema interno dos EUA; a China
simplesmente atende ao que eles querem comprar. Ela tinha outros
argumentos: 1) A maior parte das exportações chinesas é de produtos
fabricados por milhares de empresas americanas com sede no país; 2) O
déficit com a China é em parte compensado pelas exportações dos EUA
para o Leste Asiático, que produzem para atender, adivinhem quem? À
demanda da própria China... Assim, a China está beneficiando
indiretamente os EUA, quer estimulando suas empresas a produzir mais,
quer aumentando as encomendas em países asiáticos clientes dos EUA.
DESEMPREGO E INFLAÇÃO
Há ainda mais dois argumentos: 1) As importações de produtos chineses
a preços menores que os americanos estão ajudando a conter as
possíveis pressões inflacionárias nos EUA. Mas isso causa desemprego!
2) Não é verdade. Mesmo roubando mercado interno, o desemprego nos
EUA está no mais baixo nível da história, apenas 4,4% da força de
trabalho.
Malícia à parte, são argumentos de peso que explicam a política
comercial chinesa. É muito! Mesmo assim, Paulson ainda tem razão,
embora não de todo. O déficit comercial com a China representa 30% de
todo o déficit comercial americano. Pior ainda, nos quatro primeiros
meses do ano, o superávit comercial chinês com o mundo aumentou 30%,
comparado com igual período de 2006. Grande parte disso foi engolido
pelos EUA, que exportam para a China US$ 288 bilhões. A causa
principal do desequilíbrio comercial é a cotação do yuan, que se
valorizou apenas 8% em relação ao dólar desde 2005. Pode-se ver que
se trata de um diálogo de surdos. Não deu em nada de concreto, como
sempre.
Mas essa reunião de alto nível, que se realizou em Washington, é a
segunda - a anterior foi em Pequim - e serve para confirmar que a
agressiva política comercial chinesa de forma alguma vai mudar.
Quando muito, foi atenuada pela China que saiu às compras no mundo
todo. A delegação da primeira-ministra Wu Yi, uma senhora todo
sorrisos, anunciou em meio à reunião compras no valor de US$ 20
bilhões de produtos de empresas americanas de tecnologia. Antes,
fechara contratos de US$ 3 bilhões e informa, agora com a firmeza que
não usam quando falam do yuan, que irão fazer aquisições no valor
total de US$ 30 bilhões, ainda neste ano.
... MAS ESTÃO COMPRANDO
Aqui entramos nós. Se já estamos com déficit com os chineses, por que
não iniciar uma política mais agressiva, já que eles dizem estar
dispostos a comprar de tudo? Não, leitor. Não se irrite. Não vamos
voltar ao tema do avanço chinês nos nossos mercados externos e
internos do Brasil - e haja avanço! -, já exaustivamente apresentado
nesta coluna, mas decididamente estamos diante de um quadro novo. A
China quer comprar, precisa comprar porque está preocupada com os
crescentes superávits comerciais e, mais ainda, com o já incômodo
aumento das reservas. Aqui uma dupla chance para países emergentes,
como o Brasil. Ela tem mais de US$ 1 trilhão de reservas que está
investindo, agora, em projetos no exterior.
Descobriram a África de olho no petróleo e nos minérios, e podem
descobrir o Brasil se deixarmos. Eles queixam-se da demora provocada
pela nossa burocracia infernal, da deficiência da infra-estrutura,
mas temos projetos minerais e agora o álcool, oportunos e rentáveis.
É hora de atraí-los, oferecendo outros. Podemos vender mais e fugir
de um déficit comercial com os chineses que, neste ano, aponta para US
$ 1 bilhão, e atrair investimentos.
VAMOS?
Nossas relações diplomáticas com a China são boas, eu diria que nunca
foram melhores, mas eles têm o costume pragmático de separar comércio
e diplomacia. Nos "adoram", mas invadem sem piedade nosso mercado
interno e roubam o externo com a mesma crueza e o mesmo sorriso que a
ministra Wu exibe eternamente. Vão continuar embutindo nas suas
exportações os subsídios diretos oficiais e o indireto do custo de
uma mão-de-obra no mínimo 40% mais barata do que a vigente no Brasil.
Exportam o suor dos trabalhadores conformados porque, mesmo ganhando
pouco, jamais ganharam tanto. Isso pode durar muito, pois eles têm
ainda 800 milhões para empregar.
NÃO SOMOS SÓ NÓS
Ninguém pode competir com a China no mercado mundial. Mas, senhores
empresários e Brasília, eles estão comprando! Estão investindo no
exterior, numa espécie de estratégia de autodefesa e auto-
abastecimento. Querem vender mais e comprar mais sem mudar a política
comercial, simplesmente porque não têm para quem vender internamente
a imensidade que produzem cada vez mais com qualidade melhor. Dominam
o mercado mundial de computadores! Vivem do comércio exterior. Não há
como culpá-los.
Diante da inércia em face do mercado e dos investimentos chineses,
fica aquela pergunta eternamente sem resposta: a quem cabe, em
Brasília, lançar uma política comercial exclusivamente para a China,
o mercado que mais cresce no mundo? Ao Ministério das Relações
Exteriores, todo sorriso, ou ao Ministério do Desenvolvimento, todo
severo e agressivo com as empresas brasileiras? Afinal, quem manda na
política comercial brasileira, se é que existe alguma? Que eu saiba,
não existe. E se existe, ninguém viu.
Senhores de Brasília, a China saiu para as compras e está fazendo um
shopping nos mercados mundiais! Parem de criticar, chamar de
incompetentes os empresários brasileiros, de isolar-se em Brasília, e
acordem, por favor. Eles estão comprando! Vamos ajudar as empresas,
punidas pelos juros e pelo câmbio a vender?
E-mail: at@attglobal.net
