Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 19, 2007

Canetada nos juros Celso Ming


A maioria dos empresários e economistas que exige ação para impedir que o dólar derreta no câmbio interno quer a derrubada imediata dos juros - a canetada, como prega o ex-ministro Delfim Netto.

Não está claro de quanto teria de ser esse corte. As propostas falam em equalizar os juros internos e externos. Isso sugere que dos juros primários dos Estados Unidos (hoje em 5,25% ao ano) se devesse deduzir a inflação americana (de 2,5% ao ano), somar o prêmio de risco Brasil (de 1,5%) e a inflação brasileira em 12 meses (de 3%). Por essa conta, um tanto tosca, teríamos que os juros internos ficariam equalizados aos externos se a Selic, hoje de 12,5%, caísse imediatamente para 7,5% ao ano, um corte cavalar.

Se isso fosse imediatamente colocado em prática, estaria reconhecida a impossibilidade de manter o sistema de metas, pelo menos no formato hoje adotado.

Para conciliar câmbio pretendido e meta de inflação, ou a meta teria de saltar para perto dos 7% ao ano ou, para apagar o incêndio, seria preciso abrir mão de um dos três pilares da política econômica (meta de inflação) - e aí o risco é de derrubar a casa.

Ainda assim, a proposta de baixar rapidamente os juros para os tais 7,5% ao ano só poderia ter sucesso na recuperação do dólar se estivesse correto o diagnóstico que a originou. Para esse grupo de empresários e economistas, a principal explicação para a queda do dólar é a especulação com juros: os interessados tomam empréstimos em moeda estrangeira e aplicam os reais no mercado financeiro interno. Outro jeito de especular com juros é evitar (ou adiar) transferências ao exterior (de lucros, investimentos, pagamentos, etc.) a fim de tirar proveito do rendimento.

É inegável que essas operações especulativas (arbitragem com juros) são um movimento forte. Mas esta não é a principal causa da valorização do real. O grande superávit comercial (que poderá se aproximar dos US$ 50 bilhões neste ano) e o afluxo de investimentos externos (que deverão ultrapassar os US$ 20 bilhões líquidos) explicam mais.

Em geral, quem quer a derrubada unilateral dos juros para defender o câmbio sugere providências complementares. O ex-ministro Delfim Netto, por exemplo, propõe o choque de importações, ou seja, a zeragem unilateral das alíquotas do Imposto de Importação para a procura de dólares chegar mais perto da oferta e as cotações se estabilizarem.

Isso poderia ajudar. Mas nada substitui o remédio correto para o diagnóstico correto. O câmbio fora do lugar não é o problema principal. O problema principal é a falta de competitividade do setor produtivo que o dólar barato demais só está escancarando. E a falta de competitividade tem a ver com a excessiva carga de impostos, com a infra-estrutura obsoleta, inadequada e cara, com os elevados encargos sociais sobre a folha de pagamentos... e por aí vai. Até há pouco tempo, esses problemas foram compensados por um câmbio generoso, recurso que agora está falhando.

A solução é atacar os problemas de fundo, o que exige reformas. E aí já é com os políticos.

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