Quem continua a manter uma linha originalíssima de cobertura do que
acontece na USP é a Folha de S.Paulo. O jornal fez um achado
sociológico, coisa verdadeiramente única, experiência que nem se pode
chamar de "histórica" porque não há modelo anterior e não se sabe se
tal evento poderá ser repetido. Do que falo? Ora, do movimento
político por geração espontânea. O jornal insiste que a "revolta" não
tem líderes; seria, assim, uma coisa meio anárquica. Em reportagem
deste domingo, entrevistam-se dois extremos: uma moça negra da
periferia e um rapaz branco de classe média alta. Os dois invasores,
unidos num mesmo propósito. Eles não têm, vejam só, filiação
partidária. É mesmo? Será que poderiam ser eleitores do DEM?
A Folha faz questão de ignorar que há uma luta pelo controle do
aparelho estudantil da USP: de um lado, o PT, um pouco mais moderado;
de outro, uma miríade de facções de extrema esquerda, liderada pelo
PSTU e com ativa participação do PCO. Acontece que apontar isso
corresponde a negar um viés da cobertura, a saber: existira um novo
movimento estudantil, não mais atrelado a partidos. É interessante:
isso não deixa de ser útil aos grupelhos de extrema esquerda, que,
assim, NATURALIZAM A SUA MILITÂNCIA. A invasão da reitoria não seria
uma escolha política, mas uma decorrência das dificuldades da
universidade. Um dia, todos ficam de saco cheio e tomam o Palácio de
Inverno.E essa leitura também paga um tributo ao PT: como boa parte
dos líderes não é ligada ao partido, então é como se não existisse
política ali, entenderam?