Geddel decide afastar secretário de Recursos Hídricos
O inquérito da Operação Navalha vai produzir mais uma baixa no
governo Lula. Depois do afastamento do ministro Silas Rondeau (Minas
e Energia) e dois de seus assessores, será demitido Rogério Menescal,
secretário de Recursos Hídricos do ministério da Integração Nacional.
Será uma "demissão preventiva", segundo confidenciou, em privado, o
ministro Geddel Vieira Lima, titular da Integração Nacional. Menescal
foi mencionado num dos grampos telefônicos captados pela Polícia
Federal em 14 de março de 2005. Trata-se de um diálogo travado entre
Adeilson Teixeira Bezerra e Denisson de Luna, dois dos suspeitos
detidos pela PF em 15 de maio.
Antes da prisão, Adeilson e Denisson ocupavam, respectivamente, os
cargos de secretário e o subsecretário de Infra-estrutura do Estado
de Alagoas, governador pelo tucano Teotônio Vilela Filho. Na conversa
gravada, falaram sobre a necessidade de manter na pasta da Integração
Nacional, sob Geddel, o secretário Rogério Menescal.
No ministério, Menescal é responsável pela liberação das verbas
destinadas à barragem do Rio Pratagy, em Maceió. Um negócio de R$
77,78 milhões. Tocada pela Gautama a obra é uma das que se encontram
sob investigação da PF e do Ministério Público.
No telefonema interceptado pela escuta, Adeilson e Denisson falam
sobre a necessidade de pedir a interferência do senador Renan
Calheiros (PMDB-AL) e do irmão dele, deputado Olavo Calheiros (PMBB-
AL) para segurar Menescal no ministério depois da posse de Geddel.
Relatado nas páginas do inquérito da Operação Navalha, o conteúdo do
grampo foi noticiado neste sábado pelos repórteres Leonardo Souza e
Andreza Matais, na Folha (assinantes). "Denisson diz que Rogério
[Menescal] ligou para ele dizendo que tem muito interesse em ficar
mais um ou dois anos no ministério [...]", anota o documento da PF.
"Denisson diz que vai precisar do apoio do senador [Renan Calheiros].
Denisson diz que seria uma pessoa do próprio Renan ou do próprio
Olavo [Calheiros] dentro do Ministério".
Ainda de acordo com o inquérito, Denisson realça no diálogo o fato de
que Menescal é a pessoa que libera o dinheiro para a barragem do
Pratagy. "Adeilson diz que, com o Geddel, Rogério precisa de um apoio
se não ele sai", escreveu a PF no inquérito. Denisson respondeu: 'Ele
é um cara [...] que dá todos aqueles valores, que você conhece, na
área dele. É uma pessoa importantíssima. Tem uma amizade conosco
muito grande."
Segundo Geddel, empossado na Integração Nacional há menos de três
meses, nem Renan nem Olavo intercederam pela manutenção de Menescal.
Tampouco chegaram ao conhecimento do ministro, por ora, informações
desabonadoras quanto à ação funcional do servidor. Ainda assim,
Geddel decidiu afastá-lo.
"Na dúvida, é melhor afastar", diz o ministro. "É melhor para o
ministério e para o próprio Menescal". A demissão do secretário de
Recursos Hídricos será operada pelo superior hierárquico dele, João
Santana, responsável pelo setor de infra-estrutura na pasta da
Integração Nacional.
Folha Online - Blogs - Josias de Souza