Internacional
O bom problema
Países usam a criatividade para contornar os efeitos
colaterais da tempestade de dinheiro estrangeiro
Giuliano Guandalini
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Não há tradução precisa para o português da palavra inglesa windfall. Ela pode significar um presente inesperado caído do céu, um lance de sorte ou, ainda, uma bonança repentina – seja como for, ela se refere sempre a uma recompensa que não é fruto de nenhuma ação do felizardo. Os economistas têm recorrido a esse termo para designar a atual fase de prosperidade da economia mundial. Nos últimos cinco anos, aumentou de 5 bilhões para 100 bilhões de dólares o dinheiro que aporta nas bolsas de valores de países emergentes. Ao todo, esses países receberam mais de 600 bilhões de dólares em investimentos somente no ano passado, um volume sem precedentes. Esse windfall traz prosperidade, mas também dilemas:
• Como evitar que o excesso de dinheiro desperte a inflação?
• Como contornar a valorização excessiva do câmbio e não perder competitividade internacional?
Outros países já lidaram com situações semelhantes e oferecem boas lições (veja o quadro). O Chile, por exemplo, coloca o excesso de dólares em um fundo de estabilização para compensar as flutuações no preço do cobre, seu maior produto de exportação. O México enxugou gastos e eliminou o déficit público, o que reduziu a inflação e apressou a queda de juros.
O Brasil também tirou proveito dessa conspiração positiva. Elevou suas reservas internacionais em moeda forte, que já passam de 120 bilhões de dólares, e quitou boa parte da dívida externa. Além disso, estimulou estrangeiros a comprar títulos da dívida pública. Como agora existem mais compradores para esses papéis, eles se valorizaram e as taxas de juro diminuíram – os juros reais (descontada a inflação) para os títulos de longo prazo já estão abaixo de 6% ao ano, a taxa mais baixa da história do país. Mas essas medidas não são suficientes. Falta agora abraçar o seguinte tripé de medidas: reduzir tarifas de importação; diminuir gastos públicos; e implementar reformas que estimulem a competitividade e a produtividade – como acertar as contas da Previdência e baixar a carga tributária. "Dessa maneira, o governo conseguiria mitigar os efeitos da valorização do real ao mesmo tempo em que estimula os investimentos e o crescimento", diz o economista Paulo Leme, do banco americano Goldman Sachs.
Vamos desperdiçar esse windfall?