ELIANE CANTANHÊDE Blefe

folha
 BRASÍLIA - Que Chávez não nos ouça (nem leia), mas Lula fingiu o tempo todo que iria ao menos a Caracas, quando, na verdade, tinha decidido 15 dias atrás que não iria nem a Caracas, para o Fórum Social Mundial, nem a Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial. Só deixou para anunciar ontem, para não criar confusão com Chávez, o anfitrião.
Motivos não faltam para Lula ficar no Brasil. O principal deles é que a campanha eleitoral corre solta, e ele tem tido compromissos demais na área externa. Quer olhar mais para dentro do que para fora do país.
Ir a Caracas também seria uma "fria", com Chávez estrelando o papel principal e os seus convidados reduzidos a coadjuvantes. Lula não suportaria. Sem contar que nunca se sabe o que pode acontecer num encontro desses, com gente barulhenta do mundo inteiro, numa capital conflagrada como a da Venezuela.
E há dois motivos para não ir a Davos, ao contrário dos anos anteriores. Um é que o tema não vai ser o borbulhante combate à miséria, como já foi, mas o abstrato "imperativo criativo". Seja lá o que for, não está entre as especialidades de Lula.
Além disso, não estão previstos os astros da política mundial, e Lula não quer nem vai se misturar com qualquer um. Se ainda fosse para dar "um pulinho" lá, ele disse que topava. Mas é complicado chegar e sair de Davos, debaixo daquela neve toda.
Então, por que Lula fez tanto mistério até confirmar que não iria aos dois fóruns, especialmente no caso de Caracas? Elementar. Porque não poderia ir a um e faltar ao outro nem queria melindrar Chávez. Deixou para acertar a ausência diretamente com ele, com o aval dele.
O argumento de Lula foi anódino, mas convincente: o encontro em Caracas tornou-se desnecessário, já que ele, Chávez, Kirchner e outros presidentes da região vão à Bolívia no domingo para a posse de Evo Morales.
Colou. Lula fica, e Chávez foi embora feliz da vida. Resta saber o que a turma do fórum social vai dizer.

@ - elianec@uol.com.br