Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 20, 2006

VINICIUS TORRES FREIRE A guerra anglo-islamista

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 SÃO PAULO - O choque de civilizações corre solto nas publicações intelectuais ou nem tanto do mundo anglo-americano. Artigos sobre a guerra islamista e o caráter redentor da civilização anglo-americana pululam em "journals", jornais e revistas. Sobre a ameaça imigrante, o declínio demográfico do Ocidente branco e a ameaça da multiplicação de crioulos e amarelos, que dará fim à Europa. Sobre o fim do petróleo e o risco de os não-brancos terem cada vez mais armas atômicas.
O maluquíssimo presidente do Irã, seu programa nuclear, os ataques a Madri e a Londres e a revolta da periferia francesa reanimaram os ideólogos da guerra cultural.
Choque de civilizações é o nome de um artigo, depois livro, lançado em 1993 pelo politólogo de Harvard e assessor imperial Samuel Huntington. Finda a Guerra Fria e a era das ideologias político-econômicas, o principal conflito viria do choque de tradições culturais. Apesar da difusão do capitalismo, cresceria a hostilidade entre complexos religioso-linguístico-históricos diferentes, sendo os mais perigosos o islâmico e o chinês.
Fez-se picadinho de Huntington, mas o politólogo e ex-assessor da Casa Branca sabe onde o calo aperta. As teses que brotam e rebrotam nas publicações anglo-americanas são variações da ideologia huntingtoniana e repercutem alguns fatos e muitos interesses bem polpudos.
O ensaio de Huntington tornou-se uma profecia auto-realizável. De um lado, conforma bushismo, conservadorismo cultural, liberalismo e supremacismo "anglo". Oferece uma visão que unifica vários interesses e os inimigos do islamismo. De outro, a face visível, "ocidentalizada", da revolta islamista parece se adequar ao modelo do choque de civilizações em forma de fanatismo, imigrantes exóticos e terror.
De fato, há uma "guerra islâmica" desde a revolução no Irã. O petróleo é tema central, claro. Mas a idéia do choque cultural ganhou vida própria e tornou-se ela mesma um combustível da guerra contra "os outros".

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