Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 01, 2005

Luiz Garcia Segundos mandatos




Em alguma coisa eles são bastante parecidos: na ausência de paixão pelos livros, pela informação impressa em geral — e tudo mais que essa paixão implica, em termos de bagagem cultural. É triste constatação, e fazê-la pode parecer preconceituoso. Mas ajuda a entender variadas atitudes e decisões dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos.


Nossa receita de bom governo não fala numa autocracia de sábios, escolhidos sabe-se lá como, e sim em escolha popular. A idéia é que o povo, em geral, acerta. Às vezes, erra. Está nas regras do jogo, e não se conhece alternativa melhor.

Mas, ao menos supostamente, o perfil do governante eficiente inclui uma dose mínima de cultura e de informação sobre o mundo.

Essa exigência cria problemas para George Bush. Ele chefia o governo mais poderoso do planeta — mas acha que os habitantes da Grécia são grecianos. E não acredita na evolução das espécies.

Bush está no poder há quase 250 semanas e, sem preconceito nem exagero, faz uma bobagem atrás da outra. No momento, enfrenta uma tragédia político-militar no Iraque e uma série de derrotas domésticas. Não conseguiu nomear sua escolhida para a Suprema Corte, e um auxiliar importante teve de se demitir depois de indiciado por perjúrio e falso testemunho. E mais vem por aí.

O sistema político americano praticamente impõe uma queda de prestígio do presidente no segundo e último mandato de quatro anos. Bush enfrenta essa fatalidade — mas com um índice precoce de desprestígio raramente registrado.

O presidente Lula, embora com menos intensidade do que se pensava, está em situação de desprestígio análoga. Seus problemas políticos podem nada ter a ver diretamente com os limites estreitos de sua visão de mundo. Mas alguma relação de causa e efeito tem de existir. Alguém deveria tentar convencê-lo de que a espontaneidade dos improvisos não compensa a falta de informação sobre os problemas — e esta é que limita a eficiência de sua administração. Se quiserem, a aparência de eficiência.

Não é de estranhar, pensando bem, que a síndrome do segundo mandato tenha caído sobre sua cabeça um ano antes de se acabar o primeiro.

Nos Estados Unidos, analistas respeitáveis afirmam que Bush é teimoso: continuará ladeira abaixo e dificilmente fará o sucessor. Não é necessariamente má notícia.

No Brasil, os entendidos dizem que Lula tem ainda boas chances de reeleição. Sendo verdade, está na hora de especular sobre o que ele imagina que será um segundo mandato. Uma chance de repensar forma e estilo de governar? O que, curto e grosso, exige mais capricho no serviço? Mais estudo dos problemas e menos discurseira emocional? Ou ele verá na reeleição uma prova de que o povo acha que do jeito que está já é bom demais?


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