OESP
A exibição dos gastos da campanha de Lula daria uma resposta definitiva às denúncias Isolada, a denúncia da revista Veja sobre o envio de dólares de Cuba para a campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio da Silva em 2002 não teria sustentação em evidências incontestáveis. Se chegou, o dinheiro não deixou rastro nem registro na retina de ninguém que tenha se disposto até agora a confirmar sua existência. Divulgada agora, depois de Duda Mendonça ter confessado que recebeu dinheiro do PT vindo do exterior e de Valdemar Costa Neto ter dito que, em nome do PL, usou caixa 2 para pagar despesas da campanha do presidente, a história ganha a sustentação da verossimilhança. Por ora seria só, não fosse a competência do PT e do governo na arte de trocar os pés pelas mãos ante a adversidade. As primeiras reações não ajudaram a esvaziar a acusação, ao contrário. Alimentaram a desconfiança. Trouxeram de volta à cena as mesmas justificativas utilizadas no início da crise. Reavivaram na memória coletiva aqueles episódios logo desmoralizados em que as denúncias sobre transferências de recursos do PT a partidos aliados e a existência de empréstimos vultosos sem lastro ao partido com o aval de um prestador de serviços foram igualmente atribuídas a conspirações e fantasias. A denúncia dos dólares de Fidel Castro alcança o governo em momento de baixa credibilidade e nenhuma racionalidade para enfrentar as coisas de forma serena e verdadeira. Do Palácio do Planalto saem declarações de guerra aos conspiradores, quando a resposta adequada para encerrar de vez este e outros assuntos ligados à possibilidade de uso de caixa 2 na campanha presidencial não requereria prática nem sequer muita habilidade. Bastaria o PT apresentar as contas corretas da campanha, com origem e destino do dinheiro devidamente contabilizado. Providência, aliás, que por algum motivo não explicado deixou de ser tomada quando Duda Mendonça e Valdemar Costa Neto deram às CPIs as informações sobre o uso de recursos de caixa 2 na campanha presidencial. O PT e o governo limitaram-se a repelir as acusações, dizendo que o partido usou dinheiro "não contabilizado" como fizeram todos os outros partidos; mas, em relação à campanha presidencial, assegurou-se, a contabilidade foi legal. Se assim ocorreu, causa espécie - e nela se originam a suspeita e as perguntas que não querem calar - o fato de a direção do PT não ter se disposto ainda a desmentir, com dados, as aleivosias. Se as doações e as despesas da campanha de Lula estão todas nos conformes, seria o caso de responder à história de Veja com os registros da Justiça Eleitoral relativos à arrecadação e as respectivas notas fiscais dos gastos, certamente arquivadas na tesouraria do partido. Dessa forma, estaria comprovado que, se algum dinheiro veio do Caribe, teve outra destinação que não a campanha do candidato do PT a presidente, toda ela perfeitamente contabilizada em suas entradas e saídas. Agora, se não foi tão risonha e franca a contabilidade presidencial e o partido não tem como dirimir a dúvida, a desqualificação da denúncia até de maneira debochada não resolve o problema e dá à população o direito de desconfiar e impõe à oposição o dever de investigar. Entre outros e bons motivos porque o PT feriu gravemente seu direito ao benefício da dúvida quando, em ocasiões anteriores, desmentiu com veemência e indignação fatos que se provaram verdadeiros. Se a acusação é vazia e fantasiosa, por que tanta movimentação, reuniões e trocas de telefonemas entre o presidente, ministros, líderes e dirigentes partidários? Se não chegaram milhões de dólares de onde quer quer seja, se Duda não foi pago com dinheiro ilícito pelos serviços prestados a Lula, se o presidente do PL jamais pagou contas com recursos de caixa 2, por que não simplesmente abrir as contas? Atacar aos esperneios o mundo não vai adiantar. Tomemos como exemplo uma possibilidade de reação aventada pelo governo: a divulgação de registros de corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso feitos pela equipe de transição e abafados pelo governo Lula para não causar danos à economia. Tal alegação caiu em desuso pela própria separação entre a estabilidade econômica e a instabilidade política observada nas várias crises. Além disso, o acobertamento de improbidades anteriores, isto sim, poderia vir a configurar crime de responsabilidade por parte do presidente atual. Lula parece não ter se dado conta ainda de que ganhou a eleição, Fernando Henrique perdeu, não fez o sucessor. Pode, agora, no máximo sofrer prejuízo em sua reputação. Lula é quem tem um governo a manter e um mandato a defender. Calma no Brasil O acirramento dos ânimos na Câmara contra o Supremo Tribunal Federal serve ao modo provocativo de ser do deputado José Dirceu, mas não favorece a preservação do princípio da independência dos Poderes. A normalidade institucional abriga perfeitamente bem decisões divergentes e, se o Conselho de Ética tem segurança de seus atos, é desnecessário o recurso ao desacato.
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Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, novembro 01, 2005
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