PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
1/7/2008 |
Os bancos centrais do mundo estão reunidos diante de três fantasmas que ameaçam a economia: o preço do petróleo, a inflação e a crise americana. Os três põem em perigo o longo período de forte crescimento mundial. Hoje três bilhões de pessoas vivem sob uma inflação de dois dígitos, em 50 países diferentes. A crise americana é agravada pela disparada do petróleo. Os bancos centrais estão num encontro na Basiléia, como fazem rotineiramente, mas agora estão diante da sua própria incapacidade de proteger a economia mundial. Os preços do petróleo estão em níveis inesperadamente altos. A inflação de alimentos é mais complexa do que imaginam os que apenas procuram no biocombustível um bode expiatório. A crise americana é grave e fica mais grave com a alta de preços fundamentais na cesta de consumo de qualquer família: alimentos e energia. O banco Morgan Stanley fez uma análise país por país e concluiu que, em 190 deles, 50 estão "no clube dos dois dígitos" - e são justamente os mais populosos. Significa que atualmente 42% da população mundial enfrentam os efeitos dessa corrosão na renda das pessoas, a qual o Brasil conhece tão bem. O problema é que o remédio recomendado, o aperto monetário, não será usado por grande parte desses países, porque eles temem os efeitos da redução do crescimento econômico. No entanto, a inflação prolongada tem o mesmo resultado: ela afeta exatamente a taxa de crescimento. Assim o banco acha que muitos países emergentes não conseguirão manter a história de crescimento e de sucesso que vinham vivendo até agora. Na verdade, o hipotético clube, que o Morgan Stanley já definiu como DDIC (double-digit inflation club), pode ter um outro membro de enorme peso: a China. Oficialmente, ela não está com a inflação neste patamar, contudo vários preços importantes não estão incluídos nos índices, e o país acaba de aumentar em 17% os preços da gasolina e do diesel. Portanto, inevitavelmente, ela vai acabar integrando o clube. A Índia já está, com sua inflação de 11%; a Indonésia também, com 10%; assim como o Paquistão, com 19%; a Rússia, 15%; o Vietnã, 25%; e a Venezuela, com 30%. Além deles, a Argentina, com uma inflação desconhecida, mas se sabe que de dois dígitos; a Etiópia, com 29%; a Bolívia, com 17%, entre muitos outros e sem falar no Zimbábue, com 164.900%. Doze dos países do clube estão na América Latina; e mais doze na África. Outro fantasma que ameaça a economia é a crise de crédito americana (e seus efeitos), que muita gente achava que já estivesse no caminho da solução. Comemoraram cedo demais. A opinião de muitos economistas é de que há mais por vir quando se trata de problemas nos bancos. As ações deles continuam caindo. Ontem, por exemplo, o Lehman Brothers caiu 10%. No mês, já são 45%. O empréstimo interbancário também está lento, num sinal de que continua havendo insegurança dentro do próprio mercado bancário sobre a solidez dos bancos. Há poucos dias, isso ficou explícito com o relatório da Goldman Sachs afirmando que o Citi ainda teria créditos podres. Como não existem dados públicos e confiáveis a respeito de quem tem - ou não - tais créditos, o resultado acaba sendo que os relatórios de instituições de mercado são sempre olhados com atenção. Uma das hipóteses é de que haja uma segunda onda forte de bancos com problemas. Porém nem todo o mercado considera que a crise americana será catastrófica. Roberto Padovani, do WestLB, acha que ela será bem mais suave do que se esperava e pouco profunda. Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, acredita que ela durará bastante. Até agora o pessimismo tem se confirmado. No início, a aposta era de que seria um pequeno rombo, de poucos bilhões de dólares; chegou a quase US$500 bilhões. Todos concordam numa coisa: a aversão ao risco anda enorme. A confiança do consumidor está despencando também. E isso tudo tem impacto no que consomem os vorazes americanos. O petróleo em alta aumenta a inflação, reduz a renda disponível de consumidores já abatidos por outros problemas, e ainda espalha a incerteza. O petróleo não está só alto; está imprevisível. A dispersão grande das previsões mostra que tudo pode acontecer. Uma incerteza assim produz retração de investimentos. Quanto mais longo for o período de inflação alta, quanto mais incerto for o preço do petróleo maior será o impacto desses problemas no crescimento global. Foi exatamente a queda da inflação nos últimos 15 anos que permitiu um período tão longo de crescimento sustentado no mundo, diz o texto do Morgan Stanley. O relatório do BIS (o banco central dos bancos centrais), divulgado ontem, faz um bom diagnóstico; pena que um pouco tarde. Para os bancos centrais, a "causa fundamental para todos os problemas que estão surgindo agora foi o excessivo e imprudente crescimento do crédito por um longo período". Assumem que os juros ficaram muito baixos por muito tempo. O documento também critica os novos produtos financeiros, o crédito de má qualidade e a falta de transparência do processo. Pode-se resumir o que eles dizem falando o que eles não diriam tão francamente: foi falha da regulação bancária, ou seja, um erro do Fed. Para o BIS, esta turbulência que a economia mundial atravessa é sem precedentes desde o pós-guerra. Três fantasmas decidiram rondar a economia ao mesmo tempo e cada um agrava o efeito que o outro provoca. |
Entrevista:O Estado inteligente
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