Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 19, 2008

A morte dos corais

Lenta agonia sob as águas

A morte dos corais, causada pela poluição,
ameaça 2 milhões de espécies nos oceanos


Vanessa Vieira

Os recifes de corais, apreciados por sua beleza e profusão de cores, têm um papel fundamental para os oceanos. Estima-se que sirvam de abrigo para 2 milhões de espécies de peixes, moluscos, algas e crustáceos – um quarto de toda a vida marinha. Tamanha biodiversidade só encontra paralelo nas florestas tropicais. Há tempos os cientistas observam com apreensão a degradação e a morte dos corais em diversas regiões do planeta, como o Caribe e a Indonésia. A culpa seria da poluição produzida pelo homem e do aumento das temperaturas na Terra. Duas semanas atrás, com a divulgação do primeiro estudo global sobre a saúde dos corais, feito por 39 cientistas de catorze países, revelou-se que a situação dessas criaturas é pior do que se pensava. Das 1.400 espécies de corais conhecidas, 231 estão em diferentes graus de risco de extinção. Há dez anos, as espécies ameaçadas eram apenas treze. Quando os corais se extinguem, o mesmo ocorre com as plantas e os animais que deles dependem para obter alimento e refúgio contra os predadores. "Não estamos falando apenas da perda de alguns corais, mas da possibilidade de desaparecimento de enormes áreas desses ecossistemas num período de cinqüenta a 100 anos", afirma Alex Rogers, da Zoological Society of London e um dos autores do estudo, coordenado pela International Union for the Conservation of Nature (IUCN).

Os recifes de corais também beneficiam as populações nas regiões litorâneas. Eles servem como um escudo que absorve a movimentação dos mares e diminui a erosão costeira. De acordo com um estudo da ONU, o tsunami que se abateu sobre a Ásia em 2004 causou menos destruição nas áreas onde há recifes de corais. Além disso, os recifes formam regiões pesqueiras em seu entorno e são um chamariz para o turismo. Ainda segundo a ONU, os corais proporcionam benefícios da ordem de 30 bilhões de dólares anuais e produzem renda para 200 milhões de pessoas. O declínio mais drástico no número de corais ocorreu entre 1997 e 1998, durante o fenômeno climático El Niño, que provocou o aquecimento das águas e, em conseqüência, a destruição de enormes trechos de formações de corais nos oceanos tropicais. A elevação da temperatura das águas provoca a morte das algas zooxantelas, que vivem em relação de simbiose com os recifes. São essas algas que, afixadas aos tecidos moles dos corais, lhes fornecem os nutrientes necessários à sua sobrevivência e lhes dão a característica aparência multicolorida. O calor leva ao branqueamento dos recifes e à morte maciça de corais. Um efeito colateral do aquecimento global, a acidificação dos oceanos, também é fatal para a saúde dos corais. Ao absorver o excesso de dióxido de carbono na atmosfera, as águas oceânicas tornam-se mais ácidas, o que compromete a capacidade dos corais de construir seus esqueletos calcários.

Como se não bastassem os males do efeito estufa, a ação direta do homem também tem conseqüências nefastas para os corais. Os resíduos provenientes do esgoto e do lixo de cidades litorâneas ou de fertilizantes usados na agricultura provocam proliferação de vários tipos de alga que competem com os corais e os asfixiam. A pesca predatória – sobretudo com o uso de dinamite, como ocorre na Ásia, ou com redes pesadas – reduz grandes áreas dos recifes a ruínas. A construção de resorts em zonas litorâneas também coloca os corais em risco. "O surgimento dessas zonas hoteleiras acaba incentivando a depredação dos recifes para a comercialização de pedaços de coral usados como suvenir e peça ornamental", diz o oceanógrafo David Zee, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, especialista em ecossistemas urbano-costeiros.

Um exemplo de boa iniciativa para a preservação dos corais vem da Austrália. O país estabeleceu áreas protegidas na Grande Barreira de Corais, limitando o acesso de visitantes, e passou a controlar o uso de fertilizantes nas plantações próximas à costa para evitar a contaminação. O objetivo é reverter as previsões de que, até 2030, metade dos corais da barreira australiana, que se estende por 350.000 quilômetros quadrados, estará morta. A expectativa dos cientistas é que o exemplo australiano seja seguido em outras regiões do mundo. No Brasil, um estudo da Universidade Federal da Bahia e da Conservação Internacional, divulgado há dois meses, mostra que são necessárias medidas urgentes para proteger os corais do Arquipélago de Abrolhos, no litoral da Bahia, afetados pela poluição e pelo turismo. Os recifes de Abrolhos são objeto de estudo desde 1980. Em 2005, os primeiros corais doentes foram detectados. A pesquisa mostra que, se nada for feito, 40% dos corais do arquipélago desaparecerão nos próximos cinqüenta anos.

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