Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 11, 2008

Grampos mostram assessor de Lula agindo em favor de Dantas


Nas 7 mil páginas de diálogos transcritos, Polícia Federal desvenda modus operandi do banqueiro

Fausto Macedo


Sete mil páginas de grampos telefônicos são a jóia da Satiagraha, missão federal que levou à prisão Daniel Valente Dantas. Jogam luz sobre uma excepcional atuação do banqueiro nos subterrâneos do poder, gravam suas digitais em negócios privados e públicos e lobbies nos altos escalões da República. Reconstituem uma história de espionagem empresarial, intermediações, truques, cobiça e os passos daqueles que, segundo a Polícia Federal, atuam sob a tutela e o mando de Dantas - entre eles o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

Os diálogos que a Diretoria de Inteligência da PF capturou preenchem 20 volumes protegidos pelo sigilo judicial. A escuta vigiou os grupos de Dantas e de Nahas meses a fio, dia e noite. Descobriu que os dois se uniram, formando uma organização criminosa para assumir o quinhão das teles e outros empreendimentos.

Descobriu, também, a preocupação do banqueiro em aniquilar o cerco dos agentes federais - para isso, infiltrou dois agentes de confiança para subornar um delegado, oferecendo a ele US$ 1 milhão.

O grampo, no dia 29 de maio, pegou Greenhalgh com Gilberto Carvalho, assessor especial do presidente Lula, que se compromete a buscar informações com o diretor-geral da PF, delegado Luiz Fernando Correa. O tema da conversa é a investigação sobre o Opportunity. Ao ex-parlamentar, identificado como Gomes ou LEG, suas iniciais, teria sido dada a incumbência de levantar informações sigilosas do inquérito contra Dantas.

"Luiz Greenhalgh, vulgo Gomes, é pessoa muito próxima ao secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e a ministra Dilma Roussef", afirma relatório secreto da PF, peça de 246 páginas subscritas pelo delegado Protógenes Queiroz, que pôs a Satiagraha na rua. "Também é advogado e possui um escritório, mas os serviços prestados passam longe da assessoria jurídica. Para tanto, ele se serve dos advogados das empresas do grupo. Seria o homem de ligação entre pessoas do Executivo federal, empresas estatais (BNDES) e o D. Dantas para satisfação dos interesses financeiros mútuos e pessoais."

A interceptação pegou Nahas, a quem a PF atribui ligação direta com o Opportunity, ajustando operações supostamente ilícitas. "O cara é quente, é presidente do Banco Mundial", diz o investidor, a um amigo, sobre informações privilegiadas que teria recebido sobre corte de meio ponto porcentual na taxa de juros do Banco Central americano (FED).

Pitta, que administrou a cidade de São Paulo entre 1997 e 2000, é apanhado tratando de acertos com doleiros, ora pleiteando R$ 50 mil, ora se contentando com R$ 19 mil.

Verônica, irmã de Daniel Dantas, fala no dia 14 de maio com um certo Arthur. "Precisa passar os detalhes sobre a legislação para o Madeira que é amigo do Gilmar (ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal) e isso pode parar na mão dele (ministro)."

Dantas, ele próprio, fala de seu algoz, o delegado Protógenes Queiroz, em conversa com o executivo Humberto Braz, que a PF rotula de lobista e responsável pelo comando da espionagem do grupo. "O objetivo continua sendo o original... E quem tá responsável é esse Protógenes mesmo", diz o banqueiro, em 29 de abril.

TRECHOS

Gilberto Carvalho e Greenhalgh conversam sobre Investigação

Em 29 de maio, o advogado e ex-deputado do PT Luiz Eduardo Greenhalgh conversa, às 18 horas, com o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, sobre a investigação em curso. Carvalho se compromete a "levantar isso daí" com o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Correa.


Greenhalgh: Alô...

MNI: Luiz Eduardo Greenhalgh?

Greenhalgh: Sim...

MNI: É o Senhor Gilberto só um momento.

Gilberto: Luiz?

Greenhalgh: Oi...

Gilberto: O general me deu

o retorno agora... é o

seguinte não há nenhuma pessoa designada na Presidência...na Abin...com esse nome, a placa do carro não existe é fria, tá? Eles aqui acham que a única alternativa é que tenha sido caso de falsificarem documento...eles não consideram possível que seja da Abin, eu não falei com o Luiz Fernando ainda, mas não tem jeito...

a polícia federal não usa a PM, eles não se misturam de jeito
nenhum, ta... então eu acho que o mais provável é que o cara tava armando mesmo alguma coisa... mas com documento falso que também no Rio é muito comum, porque daqui não tem, eu pedi, insisti, fiz com o máximo cuidado tal.

Greenhalgh: Deixa eu te falar uma coisa. Tá ouvindo o grito da menina?

Gilberto: O grito da vida.

Greenhalgh: Isso é o grito da vida realmente, linda, mas deixa eu te falar seria bom dar um toque no Luiz Fernando também hein?

Gilberto: Eu vou dá, eu vou dá, amanhã cedo eu tenho que
falar com ele vou levantar isso dai também.

Greenhalgh: Tem um delegado chamado Protogenes Queiroz que parece que é um cara meio descontrolado.

Gilberto: Ele tá onde o Protogenes agora?

Greenhalgh: Ai, tá ai em Brasília.

Gilberto: Ah aqui em Brasília.

Greenhalgh: É o que saiu na Folha na matéria da Andrea

Michael. Mas eu tô indo amanhã pra a reunião do diretório.

Gilberto: Eu te vejo lá, eu to indo no diretório também.

Greenhalgh: Legal...

Gilberto: Que hora que tá marcada mesmo a reunião?

Greenhalgh: Nove horas.

Gilberto: Tá. Eu vejo você lá.

Greenhalgh: Grande abraço.

Gilberto: Valeu Luiz...

Greenhalgh: Obrigado.

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