RIO DE JANEIRO - Uma semana após a morte de três jovens da Providência, parece que, para o Estado, os traficantes do morro da Mineira fizeram apenas o que sempre se espera deles. Ou seja, torturar, matar, destruir. É como se a quadrilha fosse a "arma do crime" ainda não encontrada pela polícia.
Ninguém foi preso, nenhuma operação foi feita ali. Ao menos até a conclusão desta coluna. O que é curioso, porque a atuação da polícia no caso tem sido quase exemplar. Em menos de 48 horas, o que não é habitual, diz ter esclarecido um crime que envolve o Exército.
Militares detiveram os rapazes da Providência no sábado. No mesmo dia, eles foram mortos e seus corpos deram num lixão. Foram encontrados no domingo. Antes da noite cair, soube-se a história toda. Na madrugada de segunda, uma surpreendentemente ágil Justiça decretou a prisão dos militares suspeitos. Ao amanhecer, aqui ou na Europa -extensão além-mar do Palácio Guanabara-, as autoridades estavam acessíveis como nunca para comentar, condenar, criticar. Não tiveram tanta disponibilidade na prisão do ex-chefe de Polícia Álvaro Lins, deputado pelo PMDB.
Nada contra a eficiência policial. Ela é desejável e merece aplausos. O problema é que a estrutura de investigação do Estado prefere demonstrar agilidade quando há interesses políticos e eleitorais, ocultos ou não, em jogo. O ex-bispo que o diga -se reaparecer- diante da sua vitrine eleitoral estilhaçada.
Além do jogo político, deve-se levar em conta que havia outro ator interessadíssimo em ajudar a esclarecer o crime e, com isso, empurrar logo o Exército para fora da favela: o tráfico. Apesar de não ter parado com a ocupação, teve de reduzir sua atuação na Providência. Tem sido espantosa ali a quantidade de gente disponível para dar informações sem medo de se identificar. Advinha quem liberou?
Entrevista:O Estado inteligente
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