Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 25, 2008

Celso Ming - O Fed decide




O Estado de S. Paulo
25/6/2008

Hoje é o dia de ajuste dos juros nos Estados Unidos, decisão a cargo do Federal Reserve System (Fed, o banco central americano). O impacto será imediato.

Nas últimas sete reuniões, os juros básicos (Fed funds) caíram 3,25 pontos, para 2% ao ano. Foi um período em que o Fed definiu como prioridade combater o estrangulamento do mercado de crédito nos Estados Unidos, que ameaçava afundar pelo menos meia dúzia de bancos. Por isso, irrigou o sistema bancário com mais crédito e injetou mais dinheiro na economia.

O pânico foi derrotado a partir de meados de março e os bancos americanos estão aparentemente livres do naufrágio. Mas essa megaoperação apresentou dois megacustos: (1) a volta da inflação, que ameaça ultrapassar os 4% no final deste ano; e (2) o enfraquecimento do dólar diante das outras moedas fortes.

A questão que os 14 membros do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed, liderados por seu presidente Ben Bernanke, terão hoje sobre o mesão de reuniões é se chegou ou não a hora de puxar pelos juros para iniciar o contra-ataque à inflação ou se é preciso adiar esse momento até que a economia americana esteja mais resistente. A hipótese de novo corte, de 0,25 ponto porcentual, parece descartada. Qualquer que seja ela, a decisão terá impacto imediato na cotação do dólar e na trajetória de curto prazo da economia mundial.

A mensagem preponderante das autoridades monetárias dos Estados Unidos nas últimas quatro semanas foi a de que é preciso fortalecer o dólar e, ao mesmo tempo, ser implacável no combate à inflação. A partir desse recado, o mercado reforçou suas apostas em que se aproxima nova temporada de aperto monetário (alta dos juros).

Mas parece improvável que esse passo seja dado hoje porque a atividade econômica dos Estados Unidos está enfraquecida. Além disso, a saúde patrimonial dos grandes bancos americanos continua combalida e teria dificuldade de lidar com uma atmosfera mais rarefeita de oxigênio.

Assim, a decisão mais provável será manter os juros básicos ao nível de 2% ao ano. No comunicado, depois de reconhecer que a atividade econômica americana ainda está fraca, deverá vir a preparação dos espíritos para um movimento de alta, possivelmente na reunião de 5 de agosto.

A manutenção dos juros provavelmente exigirá, a título de ajuste, uma certa desvalorização do dólar diante das moedas fortes. E, pela maneira como os mercados estão se comportando nos dois últimos meses, poderá voltar a puxar em alguma coisa os preços das commodities, especialmente do petróleo e dos alimentos.

Se a decisão for aumentar os juros, a acomodação geral tomará direção oposta: alta do dólar diante do euro e do iene e queda das cotações das commodities.

Do ponto de vista da economia brasileira, juros inalterados nos Estados Unidos tendem a derrubar ainda mais a cotação do dólar ante o real. Como ontem previa à Agência Estado o especialista em Câmbio Emílio Garófalo, poderá furar o patamar de R$ 1,60 por dólar. (Ontem fechou a R$ 1,602.) E aí será preciso ver se o governo fará alguma coisa para evitar queda maior.

Confira

Ainda mais embaixo - Apesar do déficit crescente nas contas externas e da redução da tomada de empréstimos externos, a baixa do dólar no câmbio interno continua e pode se aprofundar se a decisão do Fed for manter os juros em 2% ao ano.

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