Na quarta-feira o governo anunciou aumento de 8% - bem acima dos 5,6% da inflação - no auxílio recebido pelos inscritos no programa Bolsa-Família, o carro-chefe da pragmática relação de amor entre Lula e o eleitorado.
A oposição olhou, lembrou que há três meses o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio Mello, também ministro do Supremo Tribunal Federal, alertou que a legislação proibia o governo de distribuir benefícios em ano eleitoral e pensou em perguntar ao TSE se a medida estava em acordo com a lei.
Menos de 24 horas depois já havia resolvido a questão. "A medida é eleitoreira e cavilosa (fraudulenta)", apontou o líder do DEM no Senado, Agripino Maia, mas a oposição resolveu ficar quieta. Ou melhor, decidiu fazer uma demagogia básica.
Acusa o governo de usar a máquina do Estado para beneficiar seus candidatos a prefeito, não faz nada para impedir a concretização da ilegalidade e ainda posa de compreensiva dizendo que o "pobre não pode pagar a conta" pelo aumento da inflação.
A ponderação é do líder do partido na Câmara, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, cuja candidatura a prefeito de Salvador arrefeceu sobremaneira seu outrora sempre alerta ímpeto oposicionista.
O PSDB aderiu ao lema do tudo pelo eleitoral, condenando o aumento, mas subitamente benevolente em relação à prática do partido de fazer o combate sem trégua nos tribunais. Os tucanos resolveram apoiar, "compreender" as necessidades dos desvalidos, sem deixar, no entanto, de apontar o quanto o governo se aproveita dos instrumentos de poder.
Os partidos oposicionistas deixaram a Justiça falando sozinha e deram a Lula de presente uma espécie de bolsa-oposição. A partir de agora a qualquer insinuação de ato eleitoreiro, o presidente poderá desdenhar: sou eleitoreiro, mas sou feliz, mais eleitoreiro é quem me diz.
Estará coberto de razão. A justificativa dos oposicionistas seria ridícula não fosse um produto bem calculado. A inflação subiu não apenas para os beneficiários do Bolsa-Família. Subiu para todo mundo.
Além disso, se os oposicionistas admitem pôr a necessidade acima da legalidade, aceitam que os fins são submissos aos meios e tudo pode ser justificado, dependendo da circunstância. Sendo ela eleitoral, vale tudo para não parecer impopular.
Agora, francamente, só entre nós: se a oposição se apresenta como arremedo, se abre mão de defender o correto para se render ao eleitoralmente mais rentável, por que o eleitor trocaria o certo pelo duvidoso?
PESO E CONTRAPESO
O DEM não atingiu seu ideal de conseguir o apoio oficial do PSDB, mas na contagem de benefícios e prejuízos do qüiproquó da escolha de candidaturas à Prefeitura de São Paulo o partido acha que saiu no lucro.
Perdeu de um lado, compensou de outro.
Marta Suplicy e Geraldo Alckmin têm patrimônios muito mais fornidos. "Em compensação", considerando o zero como ponto de partida, Gilberto Kassab com seus 13% nas pesquisas até agora foi quem ganhou alguma coisa.
O PFL repaginado continua minguando a olhos vistos, "em compensação", conseguiu lugar em mesa de pista na eleição mais importante do País.
Kassab terá de suar para desbancar Alckmin e conquistar a vaga antes praticamente garantida no segundo turno. "Em compensação", prefere o ex-governador como antagonista oficial, trabalhando à luz do dia para ganhar, do que como oponente informal, empenhado no escuro para impor uma derrota ao candidato do adversário José Serra.
Já em meados de março, o próprio PSDB mais ardorosamente kassabista percebeu que bater de frente com Alckmin poderia ser briga perdida.
Na marra daria para ganhar. "Em compensação", ferida, a "cobra" (Alckmin) pularia sem parar. Como candidato, fica engessado.
Pode vencer. "Em compensação", como prefeito de São Paulo terá de apoiar a candidatura do governador do Estado para a Presidência da República em 2010 ou então explicar ao eleitorado paulista por que prefere um candidato de Minas.
Pode perder para o PT. "Em compensação", não poderá reclamar por ter sido preterido.
Pode perder para Kassab, vale dizer, para Serra. Em compensação, é homem de fé e sabe o quanto vale uma boa prece.
FÉRIAS
Um mês de ausência pode ser muito ou pouco, depende do gosto do freguês. Quem aprecia, acha um exagero, quem antipatiza julga curto o refrigério; quem vai, deixa uma beijoca e até breve.