As condições gerais da economia, tanto externas como internas, pioraram nas últimas cinco semanas. Embora não tenha voltado o pânico aos mercados, a falta de confiança se aprofundou, a inflação aumentou, a disparada dos preços do petróleo e dos alimentos tem força para impedir a recuperação da economia global, o dólar tende a desvalorizar-se ante outras moedas fortes, o Fed (banco central americano) está visivelmente mais preocupado com a saúde da economia e dos bancos do que com a inflação, o grande investidor americano parece aturdido e as bolsas americanas se movem aos solavancos.
Por aqui, as coisas não estão totalmente claras. Embora a atividade econômica continue robusta, a dívida soberana do País tenha sido promovida a grau de investimento e as reservas ultrapassado os US$ 200 bilhões, a verdade é que a inflação em 12 meses ameaça furar o forro da casa, o governo não pára de gastar e tudo isso junto turbina certa dose de apreensão sobre o futuro.
São pinceladas que não compõem uma pintura ensolarada para o mercado de ações. E, no entanto, a maioria das instituições que orientam o investidor na aplicação de seu dinheiro continua apostando no forte avanço da Bolsa ainda este ano, como indica a amostragem na tabela acima.
Essas projeções otimistas se baseiam no pressuposto de que os investimentos continuarão jorrando Brasil adentro, que os preços das commodities (inclusive petróleo) seguirão em alta e que a baixa atividade econômica dos Estados Unidos será em boa parte compensada pelo excelente desempenho da produção dos países emergentes, especialmente dos da Ásia, e pelo crescimento modesto (porém crescimento) da economia européia.
O Brasil tem a vantagem de encabeçar uma sigla agora muito falada (Bric), sobre a qual se voltam os focos de luz dos investidores globais. Em companhia da Rússia, da Índia e da China, o Brasil é visto como a economia que pode dar enorme contribuição para a superação da grande escassez enfrentada no início deste século pelo sistema produtivo global: a escassez das matérias-primas, da energia e dos alimentos.
Por isso, o País vai receber mais investimentos. Considerando-se que uma gama enorme de iniciativas na área de commodities está direta ou indiretamente ligada a corporações cujas ações são negociadas nas bolsas, é natural que o mercado brasileiro de ações continue atraindo capitais.
Mas essa é a visão estratégica e, portanto, de longo prazo. As instituições da tabela estão trabalhando com horizonte bem mais curto ou, mais precisamente, fazem suas projeções até o fim deste ano. São apostas sujeitas aos desvios a que a Bolsa não pode fugir.
A conclusão prática é sobejamente conhecida, mas não custa repetir: quem está nessa chuva pode se dar muito bem, mas tem de saber que corre o risco de se molhar.