O Estado de S. Paulo |
24/6/2008 |
Não avançou quase nada o encontro excepcional realizado no fim de semana em Jeddah, à beira do Mar Vermelho, na Arábia Saudita, entre os maiores responsáveis globais por políticas de Petróleo e Energia. A acreditar nas proposições do ministro saudita do Petróleo, Ali Naimi, os grandes produtores tendem a ver a disparada dos preços mais como resultado da especulação nos mercados de futuros do que como conseqüência do desequilíbrio estrutural entre oferta e procura, diagnóstico preponderante entre os principais consumidores. A divergência divide os analistas em fundamentalistas e denunciadores de bolhas. E, nesse campo, não se pode ser radical demais. Tudo indica que o problema de fundo seja mesmo o desequilíbrio entre demanda e oferta. Tem a ver com o aumento do consumo dos países asiáticos, que desestabilizou estoques. Mas isso não explica tudo porque os especuladores também estão lá, tirando proveito da instabilidade. São descabidos os apelos feitos no encontro pela Arábia Saudita para que haja mais transparência nos mercados e que os países ricos monitorem o jogo dos fundos de investimento nas bolsas internacionais de commodities. A proposta parte do princípio equivocado de que o que acontece nesses mercados não passa de especulação. O argumento central dos que adotam o diagnóstico da bolha é o de que o volume de negócios no mercado futuro deu um salto que só pode ser explicado pela entrada de novos players. Mas essa pode ser uma conclusão apressada. A partir do momento em que os preços do petróleo e de seus derivados começaram a cavalgada, é natural que os grandes consumidores, que dependem do fornecimento de combustíveis, tenham acorrido aos mercados futuros para defender seu cash flow dos solavancos. Estão nesse grupo termoelétricas, empresas petroquímicas, produtoras de cimento, vidro e cerâmicas, companhias aéreas e outras empresas de transporte. Se há previsões de que o petróleo escalará os US$ 200 por barril, é natural que tentem garantir suprimento futuro aos preços atuais. Isso não é especulação; é providência determinada por boa governança corporativa. Pelas mesmas razões, tentar intervir nos mercados futuros para coibir a escalada pode ser um equívoco. Primeiramente, porque nem os países ricos dispõem de recursos suficientes para mudar o rumo dos mercados. E, em segundo lugar, porque, se fossem eficazes, as intervenções poderiam destruir mecanismos legítimos de defesa da atividade produtiva. O encontro pode ter aproximado grandes produtores e grandes consumidores. Mas pareceu longe de acenar com uma virada. A Arábia Saudita prometeu bombear mais 200 mil barris diários, uma fração diante da perda de 1,2 milhão em capacidade que se seguiu ao bombardeio de oleodutos há cinco dias na Nigéria. E garantiu que está investindo no aumento da produção que, no entanto, precisa de tempo para maturar. “Não há soluções overnight” - resumiu ao New York Times o presidente da Royal Dutch Shell, Jeroen van der Veer, ao final do evento. E isso sugere que os preços continuarão morro acima. Primeiro sinal - A informação mais importante do Relatório Focus divulgado ontem foi a de que as cinco instituições que mais acertam as previsões (Top 5) já não enxergam piora para além de 6,21%, mesmo prognóstico da semana passada. |
Entrevista:O Estado inteligente
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