O abraço sincero e emocionado entre o presidente Luiz Inácio da Silva e Fernando Henrique Cardoso no velório de Ruth, a mulher do ex-presidente, deu de novo ensejo a ilações sobre uma hipotética unidade de ação e pensamento entre PT e PSDB.
Uma verdadeira obsessão no mundo político. Fala-se do assunto como se a soma de petistas com tucanos resultasse necessariamente na salvação da lavoura nacional.
A retomada do tema, a partir das manifestações de pesar e solidariedade pela morte de Ruth Cardoso, evidencia o maniqueísmo da incipiente democracia brasileira, que não considera com serenidade a convivência civilizada entre contrários e só enxerga as figuras do amigo e do inimigo.
Se o PT estendeu a mão amável ao presidente de honra do PSDB num momento de dor profunda, isso não pode ser apenas um gesto de natureza emocional; é preciso necessariamente que oculte alguma intenção de caráter político ou pelo menos sirva como "prova" de que um dia a quimera da unidade será uma realidade.
É verdade que essas versões não circulam por obra de geração espontânea. Elas são alimentadas a todo o instante por políticos de ambos os lados, a despeito de estarem todos cansados de saber que a distância entre as concepções de um e de outro mede-se em léguas.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, é um dos mais vistosos arautos da tese de que a junção seria a materialização da "nova política", expressão recentemente incorporada ao dicionário do presidente Lula.
Comentando seu encontro com o presidente no velório, o governador relatou a constatação do presidente sobre a identificação entre os dois partidos. Teria dito Lula: "Nós temos os mesmos amigos, é muito curioso que estejamos tão distantes."
Curioso é o termo menos adequado ao caso. Nada há de excepcional, considerando as diferenças de prática e discurso, muito claras desde que o fim da ditadura levou seus antigos e unidos combatentes a buscar cada um o seu caminho.
Não há nada de mal, de selvagem ou de antidemocrático nisso. Ao contrário. Política boa é a que abriga as divergências em ambiente civilizado, de respeito às fronteiras do adversário, livre do vício da cooptação e pleno da consciência sobre o papel de cada um: governo governa, oposição se opõe.
Da confusão entre amabilidade na esfera privada com adesão no campo político chega-se facilmente à eliminação das dificuldades do contraditório em troca do desfrute das facilidades dos sistemas de alternâncias arranjadas.
PROGNÓSTICO
A volta de inflação, provocada pela alta no preço dos alimentos, estava no roteiro do então ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, desde 2006.
Pouco mais de um mês antes de deixar o ministério, Rodrigues fez um desabafo, no dia 29 de maio, sobre as dificuldades que enfrentava com o "descaso" do governo, fruto, segundo ele, do desconhecimento e do preconceito da esquerda em relação ao agronegócio.
Na avaliação de Rodrigues, a queda nos preços, os aumentos nos custos, a redução da produção e a elevação das dívidas desenhavam um cenário de crise, cujos efeitos, no entanto, não prejudicariam a campanha de Lula pela reeleição.
"Só serão sentidos pelo consumidor em 2008 quando os preços dos alimentos serão atingidos pela inflação", dizia.
MÉTODO
A direção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acha que sua perda de autonomia só existe na cabeça de gente de má-fé.
Sendo assim, apenas os mal-intencionados atribuirão a recente decisão de suspender a divulgação trimestral de projeções sobre indicadores econômicos, entre os quais a inflação, ao aparelhamento político-partidário do Ipea.
Aos de boa vontade satisfará a versão de que a alteração na metodologia de trabalho é feita concomitantemente à subida dos índices de inflação - potenciais predadores do capital de popularidade do presidente Lula -, por mera coincidência.
SIMPLES ASSIM
A decisão do Tribunal de Contas da União de divulgar o nome de maus gestores públicos, para dar munição à Justiça Eleitoral contra os candidatos "ficha-suja", não inova.
Aliás, surpreende que tenha demorado tanto, porque se limita a cumprir a Constituição.
O inciso 33 do artigo 5º assegura a "todos", o direito de "receber dos órgãos públicos informações de seu interesse, particular, coletivo ou geral, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado".
O caput do artigo 37 obriga a "administração pública direta, indireta ou funcional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios", a obedecer "aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade".
Uma verdadeira obsessão no mundo político. Fala-se do assunto como se a soma de petistas com tucanos resultasse necessariamente na salvação da lavoura nacional.
A retomada do tema, a partir das manifestações de pesar e solidariedade pela morte de Ruth Cardoso, evidencia o maniqueísmo da incipiente democracia brasileira, que não considera com serenidade a convivência civilizada entre contrários e só enxerga as figuras do amigo e do inimigo.
Se o PT estendeu a mão amável ao presidente de honra do PSDB num momento de dor profunda, isso não pode ser apenas um gesto de natureza emocional; é preciso necessariamente que oculte alguma intenção de caráter político ou pelo menos sirva como "prova" de que um dia a quimera da unidade será uma realidade.
É verdade que essas versões não circulam por obra de geração espontânea. Elas são alimentadas a todo o instante por políticos de ambos os lados, a despeito de estarem todos cansados de saber que a distância entre as concepções de um e de outro mede-se em léguas.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, é um dos mais vistosos arautos da tese de que a junção seria a materialização da "nova política", expressão recentemente incorporada ao dicionário do presidente Lula.
Comentando seu encontro com o presidente no velório, o governador relatou a constatação do presidente sobre a identificação entre os dois partidos. Teria dito Lula: "Nós temos os mesmos amigos, é muito curioso que estejamos tão distantes."
Curioso é o termo menos adequado ao caso. Nada há de excepcional, considerando as diferenças de prática e discurso, muito claras desde que o fim da ditadura levou seus antigos e unidos combatentes a buscar cada um o seu caminho.
Não há nada de mal, de selvagem ou de antidemocrático nisso. Ao contrário. Política boa é a que abriga as divergências em ambiente civilizado, de respeito às fronteiras do adversário, livre do vício da cooptação e pleno da consciência sobre o papel de cada um: governo governa, oposição se opõe.
Da confusão entre amabilidade na esfera privada com adesão no campo político chega-se facilmente à eliminação das dificuldades do contraditório em troca do desfrute das facilidades dos sistemas de alternâncias arranjadas.
PROGNÓSTICO
A volta de inflação, provocada pela alta no preço dos alimentos, estava no roteiro do então ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, desde 2006.
Pouco mais de um mês antes de deixar o ministério, Rodrigues fez um desabafo, no dia 29 de maio, sobre as dificuldades que enfrentava com o "descaso" do governo, fruto, segundo ele, do desconhecimento e do preconceito da esquerda em relação ao agronegócio.
Na avaliação de Rodrigues, a queda nos preços, os aumentos nos custos, a redução da produção e a elevação das dívidas desenhavam um cenário de crise, cujos efeitos, no entanto, não prejudicariam a campanha de Lula pela reeleição.
"Só serão sentidos pelo consumidor em 2008 quando os preços dos alimentos serão atingidos pela inflação", dizia.
MÉTODO
A direção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acha que sua perda de autonomia só existe na cabeça de gente de má-fé.
Sendo assim, apenas os mal-intencionados atribuirão a recente decisão de suspender a divulgação trimestral de projeções sobre indicadores econômicos, entre os quais a inflação, ao aparelhamento político-partidário do Ipea.
Aos de boa vontade satisfará a versão de que a alteração na metodologia de trabalho é feita concomitantemente à subida dos índices de inflação - potenciais predadores do capital de popularidade do presidente Lula -, por mera coincidência.
SIMPLES ASSIM
A decisão do Tribunal de Contas da União de divulgar o nome de maus gestores públicos, para dar munição à Justiça Eleitoral contra os candidatos "ficha-suja", não inova.
Aliás, surpreende que tenha demorado tanto, porque se limita a cumprir a Constituição.
O inciso 33 do artigo 5º assegura a "todos", o direito de "receber dos órgãos públicos informações de seu interesse, particular, coletivo ou geral, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado".
O caput do artigo 37 obriga a "administração pública direta, indireta ou funcional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios", a obedecer "aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade".