Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 28, 2008

Petróleo As cinco principais razões para o alto preço

O petróleo nunca mais será barato

Uma conjunção de fatores empurra o preço
do combustível para um novo patamar


Cíntia Borsato

Ali Jarekji/Reuters
Encontro dos países produtores na Arábia Saudita: eles prometeram mais produção para baixar o preço, mas a cotação continua em alta

As cotações do petróleo atingiram novos recordes, e nada, no momento, parece capaz de impedir a sua trajetória de alta. O preço do barril negociado em Nova York fechou pela primeira vez acima de 140 dólares, na semana passada. Nem mesmo durante os dois choques do petróleo, em 1973 e 1979, ele chegou a custar tão caro. Desde 2003, o preço mais do que quadruplicou. A espiral ascendente nas cotações da principal fonte energética do planeta chega numa péssima hora para uma economia mundial que já se vê obrigada a lidar com a freada no ritmo de crescimento e o aquecimento inflacionário. Segundo o presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o argelino Chakib Khelil, a cotação do barril deverá atingir 170 dólares até setembro. Ainda que alguns discordem de uma previsão tão drástica, o fato inescapável é que os anos de petróleo barato chegaram ao fim.

Por uma combinação inédita de fatores, o combustível nunca mais voltará ao patamar de 30 dólares verificado há apenas cinco anos. Nas crises passadas, os saltos nos preços ocorreram por interrupções temporárias no fornecimento, motivadas por questões políticas. Foi assim, por exemplo, no embargo dos produtores árabes em 1973. Desta vez, a produção mundial avança num ritmo inferior ao da demanda. Pegue-se o caso da China. Segundo o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, o consumo chinês de petróleo vem crescendo num ritmo superior a 7% ao ano, enquanto a oferta mundial é ampliada em pouco mais de 1% ao ano. Em 2002, o país asiático necessitava de 5,2 milhões de barris ao dia para suprir suas necessidades. Agora, a China bebe diariamente cerca de 7,8 milhões de barris.

Outro fator que contribui para a alta nas cotações é o aumento da atividade de especuladores. Diante da baixa rentabilidade de aplicações tradicionais, como títulos públicos e ações, os investidores são atraídos pelas perspectivas de ganho com as commodities, particularmente o petróleo. Desde 2003, os especuladores acumularam um volume de contratos financeiros, principalmente no mercado futuro, equivalente a 848 milhões de barris. Há quem jogue toda a culpa sobre a especulação. A maior parte dos economistas, porém, afirma que ela só cresceu porque os preços aumentaram. Além disso, os investidores (alguns deles representando grandes empresas consumidoras de petróleo) estariam apenas contribuindo para antecipar uma alta que ocorreria mais cedo ou mais tarde – afinal de contas, o petróleo é um recurso finito. E o fim parece próximo.

Seja como for, a especulação é hoje um dos fatores mais visíveis por trás do encarecimento do petróleo. Há outros menos óbvios. Em quase todo o globo, o custo dos combustíveis tornou-se uma questão política de primeira ordem. Isso é verdade principalmente nos países em desenvolvimento, cujos governantes, temendo perder popularidade, evitam elevar o preço. Para tanto, subsidiam a gasolina e o óleo diesel, mantendo os valores na bomba defasados. Conclusão: a demanda por petróleo permanece aquecida e as cotações não cedem. Diz Alexandre Szklo, professor da Coppe, órgão ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro: "Nas crises de 1973 e 1979, o mundo conviveu com um choque de oferta, causado pela retirada de petróleo do mercado. Agora, pela primeira vez, estamos diante de um choque de demanda, criado artificialmente, porque os preços são subsidiados nos países emergentes". A China, que apenas recentemente decidiu reajustar em 17% o preço da gasolina, gastou no ano passado 22 bilhões de dólares em subsídios. No México, onde o combustível também é subsidiado, o litro da gasolina custa o equivalente a 1 real. Por causa dos preços baixos, tornou-se comum encontrar americanos que cruzam a fronteira para encher o tanque no país vizinho (nos Estados Unidos, a gasolina já subiu 20% nos últimos doze meses).

No Brasil, a Petrobras também evita repassar o aumento no custo do petróleo. Aqui, a gasolina custa hoje menos do que em junho de 2007. De acordo com estimativas do consultor Adriano Pires, a Petrobras deverá perder 12 bilhões de reais em 2008 por causa da defasagem nos preços do diesel, do gás de cozinha e da gasolina. A estatal rejeita esse cálculo. Em nota a VEJA, afirmou: "A política de preços não transfere a alta volatilidade dos preços internacionais para o mercado interno no curto prazo. A companhia promove reajustes de preços, para cima ou para baixo, quando se consolida um novo patamar internacional de preços de petróleo, mantendo um alinhamento de médio prazo com os preços internacionais". Tradução: para aflição dos seus acionistas, a Petrobras só vai aumentar os preços quando a coisa ficar realmente insustentável – e o governo deixar.

Uma prova irrefutável de que os preços altos do petróleo chegaram para ficar é que nem mesmo a decisão da Arábia Saudita de elevar sua produção para 10 milhões de barris por dia (o maior volume de extração registrado na história do país) foi suficiente para conter a alta nas cotações. As maiores reservas conhecidas do planeta estão justamente no conflagrado Oriente Médio. Desde 2003, quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, as tensões só se agravaram por ali. Ao mesmo tempo, outros grandes produtores de outras regiões também passaram por instabilidade política e não investiram o suficiente em busca e exploração de novas reservas. A Nigéria, por exemplo, produz hoje apenas 1,5 milhão de barris por dia, o menor volume dos últimos 25 anos. Na Venezuela, Hugo Chávez açoitou as companhias petrolíferas estrangeiras. Atualmente, cerca de 80% das reservas mundiais estão nas mãos de empresas estatais – a maior parte delas pouco disposta a elevar a produção.

Em 1991, uma combinação rara de fatores climáticos resultou numa tempestade que, vinda do Atlântico Norte, castigou os Estados Unidos. O estrago foi estimado em 200 milhões de dólares. Deu-se ao evento o nome de "tempestade perfeita", expressão que agora integra o inglês coloquial para definir desastres resultantes da convergência de vários fatores. O preço do petróleo enfrenta hoje uma tempestade perfeita. Só que sem data para acabar.



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