Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 28, 2008

A Companheira-Maria Helea Rubinato-




 Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -




Há palavras que parecem ter sido criadas para determinadas pessoas.

É o caso de 'companheira' e da Professora Ruth Cardoso.

Não a conheci. Nunca a vi, nem de perto, nem de longe. Nunca troquei palavra com ela, nem por telefone, nem por carta ou e-mail. O que sei dela, sei por ouvir dizer, por ler, por conversas com amigos que a conheceram. Perdi, para sempre, a oportunidade de apertar a mão dessa mulher em todos os sentidos admirável.

Da antropóloga, professora, orientadora, organizadora e criadora de programas sociais relevantes, falam os que sabem falar disso melhor do que eu. A mim o que me comove sobremaneira é a capacidade dessa mulher em fazer a perfeita simbiose entre feminismo e feminilidade.

Desde a campanha de Fernando Henrique até o fim de seu governo, quando ela, a contragosto, esteve nas primeiras páginas dos jornais, percebemos nela essa característica verdadeiramente inestimável: Ruth Cardoso conseguiu ser a companheira de todas as horas, sem ser o papel carbono do marido. "Se tiver idéia diferente, eu expresso. Não tenho a mesma posição política só por ser casada".

Era evidente seu desconforto com o poder. Mas cumpriu à risca o papel de mulher do Presidente da República, honrando com seus modos, seus trajes e sua inteligência coruscante, o nome do Brasil.

Deixou de ser mãe e avó nos anos de poder? Não. Assim como não deixou de ser companheira, mãe, avó e amiga em nenhum momento de sua vida. Não precisamos de mais do que olhar fotos da família Cardoso, para perceber a união, o amor, a relação forte entre eles.

A televisão nos mostrou, agora, uma cena muito linda: ela e o Presidente, numa ponte, na Europa. Rindo, felizes, um casal bonito, ele diz para o cinegrafista: "Diga aos turistas que é uma cena da nova novela das oito". E ela dá uma gargalhada gostosa. De mulher realizada e contente consigo mesma, e com a vida.

Vida construída pelos dois com grandes sacrifícios: ir para o exílio com crianças pequenas não deve ser fácil. Mudar de casa, de bairro, de emprego, de amigos, de idioma, de cidade, de país, adaptar as crianças à nova rotina e ao mesmo tempo ganhar a vida... é quase que o décimo terceiro trabalho de Hercules. Ruth Cardoso ainda fez mais: teve brilho próprio, intelectualmente, mas nunca disputou com o marido quem iria brilhar mais. Foi, repito, feminina e feminista. Igualdade, sim. Superioridade, não. Não queria ser o chefe. Poder, nem dentro de casa.

Tenho para mim que ela não gostaria de certos comentários que andei lendo. Era profundamente ciosa dos direitos de todos e seria a última a permitir comparações absolutamente inconvenientes. Uma pessoa como Ruth Cardoso não surge do nada: nascida em Araraquara, estudou interna no Colégio des Oiseaux, em SP, e depois cursou a USP. Sua inteligência permitiu que não se tornasse dondoca, ou militante chata, ou feminista exaltada. Creio que ela detestaria tripudiar sobre quem quer que fosse e que diria: "Tive uma boa educação, tive oportunidades dadas a poucos e se mérito houve, foi o de saber aproveitá-las". E despacharia logo os puxa-sacos e maldosos.

Ruth Cardoso foi uma grande mulher. Dói ver seu companheiro alquebrado, com os olhos profundamente tristes, mas nada mais natural, diante da perda que sofreu. O que vai ajudá-lo é a família forte e unida que sua Ruth criou com ele.

Comentário no Blog Reinaldo Azevedo 27/6



Arquivo do blog