24.6.2008
| 22h18m
Adeus a Ruth Cardoso
Conheci Ruth Cardoso há pouco menos de 30 anos.
Nunca fomos amigas, nem mesmo eventuais.
Eu era uma jovem cientista política, dando os primeiros passos na comunidade acadêmica. Ela era antropóloga consagrada, professora, orientadora. Líder na antropologia brasileira.
Eu a via em congressos das ciências sociais. Professora, tinha sempre muita delicadeza e disposição para atender os iniciantes nas ciências sociais.
Seu marido, o sociólogo e cientista político Fernando Henrique Cardoso, brilhava mais, aparecia mais. Era mais “midiático”, se diria hoje em dia.
Ruth, ao contrário, sempre foi discreta. Competente, severa, rigorosa, intelectual completa.
Companheira de seu marido, acompanhou-o no exílio, nas muitas universidades no exterior – não apenas como observadora muda, mas como professora atuante, pesquisadora visitante.
Quando Fernando Henrique decidiu ser candidato a presidente, Ruth foi a grande apoiadora, a grande companheira.
Primeira-dama das mais discretas, continuou levando sua vida intelectual e acadêmica, dentro do possível, nas suas novas funções.
Foi quem criou no governo o primeiro programa de inclusão social, depois adotado e seguido pelo governo Lula: o Comunidade Solidária, que atendia a famílias carentes, mas sempre procurando um ofício, uma forma de sustentação daquela família.
Mais do que o esteio de um grande homem, Ruth Cardoso foi uma grande mulher.
No panorama das primeiras-damas autônomas, independentes, de carreira e luz próprias, só me lembro de Raisa Gorbachov e Hillary Clinton.
Grandes mulheres.
Saudades.