NOS ESTADOS UNIDOS , como em toda parte, o mundo dos formuladores de políticas públicas é uma província. Por isso não chegou a surpreender que, sagrado o candidato democrata, Barack Obama tenha anunciado que passaria a ser assessorado por gente que serviu a Bill Clinton.
Na economia, o convidado foi Jason Furman, assessor júnior na época de Clinton e pupilo do ex-secretário do Tesouro Robert Rubin, hoje no Citigroup. Na política externa, quem encima a lista é a ex-secretária de Estado Madeleine Albright. São nomes que marcaram o período pós-Guerra Fria.
Rubin foi um impulsionador da desregulamentação financeira global. Nos EUA, abençoou o enterro da Glass-Steagall, lei antiespeculação dos anos 30 que limitava a atuação de grupos de investimento no varejo bancário. Nas primárias contra Hillary, Obama apontou o fim da lei como uma das origens da bolha das hipotecas de alto risco.
Albright demonstrou, à frente da Secretaria de Estado, pendor à soberba que depois seria a marca do primeiro mandato de George W. Bush. Ficou famosa a frase de um diálogo que travou no início dos anos 90 com Colin Powell, então chefe das Forças Armadas: "Qual é o sentido de ter um Exército fenomenal se não podemos usá-lo?".
Para quem comandou aquele período benfazejo aos EUA, a "guerra ao terror" e a invasão do Iraque são hoje consideradas desvios irracionais. Polida desses excessos - "não se pode ir à guerra contra um método", ironizou outro ideólogo democrata, Zibgniew Brzezinski-, a liderança internacional do país voltaria ao curso de antes. Essa é a esperança dos formuladores do Partido Democrata -que, aliás, não seria contraditória com os diagnósticos sobre a "era da não-polaridade", uma vez que nela os EUA manteriam seu peso absoluto, mesmo perdendo poder relativo.
Para isso, duas tarefas seriam urgentes. A primeira, equacionar melhor a relação simbiótica com a China, no momento em que a desvalorização do dólar e o aumento da demanda da potência asiática por matérias-primas formam uma mistura explosiva. A segunda, estabelecer uma convivência menos belicosa com o Irã e suas reservas de gás e petróleo.
Não são desafios pequenos. E é bom ter em mente, caso Obama seja eleito, que nada apavora mais um democrata do que ser comparado a Jimmy Carter. Ao assumir em meio à crise do petróleo dos anos 70, ele foi à TV pedir que os americanos usassem "transporte solidário" e reduzissem a temperatura do aquecedor. Depois da Revolução Islâmica iraniana, abriu o último ano de mandato enunciando a "Doutrina Carter", pela qual os EUA se reservam o direito de intervir no golfo Pérsico para garantir o suprimento de combustível.
CLAUDIA ANTUNES é editora de Mundo .