A personagem do semestre
Depois do presidente Lula, naturalmente, Dilma Roussef foi a principal personagem da política brasileira no primeiro semestre de 2008. Por conta dos eventos do PAC, alcançou grande visibilidade. Sempre ao lado do presidente, Dilma teve fantástica presença na mídia.
A personagem é polêmica, e está longe da unanimidade. Muito longe.
Seus aliados a consideram uma técnica competente, rigorosa na fiscalização da atuação dos outros ministros, firme no trato com os subordinados. Sob sua administração, o PAC é um sucesso.
Seus opositores a consideram truculenta, autoritária, ríspida, atrabiliária, e não muito competente, haja visto que muitas obras do PAC são pura ficção, nem saíram do papel, enquanto pipocam notícias de que a Polícia Federal prende envolvidos com corrupção em obras do PAC em várias regiões do país.
(Esta divisão entre aliados e opositores não corresponde necessariamente à divisão entre governo e oposição.)
Dilma também foi protagonista dos dois escândalos que agitaram a política no primeiro semestre: a elaboração e divulgação de dossiê com despesas pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, e o escândalo da venda da Varig.
Quando os gastos com cartão corporativo por membros do governo Lula ameaçavam tornar-se assunto de CPI, Dilma afirmou a empresários, num jantar em São Paulo, que o governo estava preparando munição para reagir às acusações da oposição.
Quando começaram a sair as primeiras notícias de um dossiê com as despesas do ex-presidente, Dilma telefonou pessoalmente a Ruth Cardoso e negou categoricamente a existência do tal dossiê.
Depois, quando foi confirmada a existência do dossiê, Dilma afirmou que se tratava de um “banco de dados”.
Finalmente, descobriu-se que, não só o dossiê existia, mas tinha sido elaborado dentro da Casa Civil da Presidência da República e foi vazado por obra e graça de um alto funcionário da Casa Civil, petista histórico.
No segundo escândalo, Dilma foi acusada por Denise Abreu, ex-diretora da Anac, de pressionar pela venda da Varig, atendendo a interesses do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula.
Como sempre, quando é apanhada em falso, a ministra Dilma negou tudo, afirmando mesmo que jamais tinha recebido o advogado Roberto Teixeira no Planalto.
Confrontada com a publicação das várias visitas de Roberto Teixeira ao Planalto, Dilma lembrou-se de que, sim, tinha tido duas reuniões com Roberto Teixeira e sua filha, para tratar da venda da Varig.
Fica parecendo que a ministra Dilma Roussef tem relações cerimoniosas e distantes com a verdade.
Finalmente, Dilma termina o semestre investigada pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República. A Comissão vai avaliar se ela pressionou a Anac no caso da venda da VarigLog e se cometeu deslize ético quando teve duas reuniões com o advogado Roberto Teixeira.
(Neste caso, as reuniões não constavam da agenda pública da ministra. O Decreto nº 4.334, de 12.08.2002, que dispõe sobre as audiências concedidas a particulares por agentes públicos – caso das reuniões da ministra com o advogado Roberto Teixeira, nas dependências do Palácio do Planalto – é taxativo: estas reuniões devem ser acompanhadas por outro servidor e registradas, com a anotação das pessoas presentes e dos assuntos tratados. Não foi o que ocorreu.)
É altamente improvável que a Comissão recomende ao presidente Lula a demissão da ministra Dilma Roussef. Mas que ela descumpriu um decreto da Presidência da República, parece não haver dúvida.
Por tudo isso, por toda a exposição e por suas estripulias, a ministra Dilma Roussef é, indiscutivelmente, a personagem do primeiro semestre.
Não tem para ninguém.