O Estado de S. Paulo |
27/6/2008 |
Há três dias o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, fez uma afirmação que pareceu prenunciar despejo de chumbo grosso para cima da economia. Falou como se tivesse condições de definir mudanças importantes na política macroeconômica de modo a estancar um rombo perigoso nas contas externas. Em poucas palavras, disse que o déficit nas Contas Correntes preocupa e que, para impedir que supere 1,5% do PIB, o governo tomará providências que não se limitarão ao estímulo à exportação de manufaturados, mas - ficou sugerido - alcançarão também a área cambial. Foi uma declaração que provocou faíscas elétricas. Isso mostra que Coutinho tocou um dos fios desencapados que permeiam o debate entre as duas principais tribos em que se agrupam os economistas brasileiros. Para uma dessas correntes, a dos heterodoxos, em que mais se enquadra Coutinho, o medo preponderante é o do alargamento do rombo externo (déficit nas Contas Correntes), cuja principal conseqüência é a falta de recursos para as despesas no exterior. Para a outra, a dos ortodoxos, a ameaça mais séria é a desestruturação da economia que pode ser provocada pelo avanço da inflação. Ontem, o ministro Mantega entendeu que precisava responder à advertência. Pelo histórico, ele está mais afinado com os heterodoxos. Mas desestimulou o diagnóstico da crise que pudesse provir a partir do déficit externo: “Não há limite numérico para o déficit nas Contas Correntes.” Mas vamos ao mérito do problema. As Contas Correntes são o segmento do Balanço de Pagamentos (contas com o exterior) que registra o total de entradas e saídas de recursos em três subcontas: Balança Comercial (exportações e importações), Balança de Serviços (juros, turismo, royalties, etc.) e Transferências Unilaterais (o dinheiro que as famílias mandam ou recebem de/para parentes no/do exterior). Seu comportamento no País é historicamente deficitário, mas, desde o fim de 2002, registrava superávit graças às fortes exportações. Quando é deficitário, o saldo nas Contas Correntes reflete mais consumo que poupança e é coberto ou por entrada de capitais (investimentos e financiamentos) ou por uso de reservas. Muitas vezes, no passado, esse rombo provocou traumas graves, que levaram à suspensão de pagamentos (moratória) e à forte desvalorização da moeda nacional ante o dólar. É a repetição disso que os heterodoxos temem, pois no fim dessa picada há um precipício que desemboca em recessão, desemprego e outras coisas alarmantes. Mas o maior temor demonstrado por Coutinho - que é o aparecimento desse abismo aí - não tem razão de ser, pois o Brasil tem hoje um colchão de US$ 200 bilhões em reservas para serem usadas se necessário. Em segundo lugar, não dá para entender como “políticas industriais” podem reverter um déficit externo que se baseia em exportações fracas. Resposta mais rápida poderia vir ou das exportações agrícolas ou da derrubada das despesas do setor público. E uma mudança substancial na área cambial exigiria rearrumação radical da política econômica, hoje altamente improvável. Confira Para o alto - Embora tenha fechado no pregão manual a US$ 139,64, o barril de petróleo atingiu no pregão eletrônico de Nova York recorde de US$ 140,39. E o verão no Hemisfério Norte, temporada de consumo de gasolina, está apenas começando. |
Entrevista:O Estado inteligente
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