As enchentes no Meio-Oeste varreram estimados 1,6 milhão de hectares de terras cultiváveis de primeira linha, afetando a colheita deste ano num momento em que o mundo precisa desesperadamente de mais grãos. Com os preços do milho estabelecendo recordes e os preços da soja não muito atrás, a administração Bush enfrenta forte pressão para fazer o que pode para aumentar a oferta de alimentos.
O senador republicano por Iowa, Charles E. Grassley, uma das principais vozes sobre política agrícola no Congresso, instou o Departamento de Agricultura a liberar dezenas de milhares de produtores rurais de contratos pelos quais eles haviam se comprometido a deixar de lado áreas imensas como habitat natural.
"Esse é um pedido extraordinário", disse Grassley numa entrevista telefônica enquanto viajava por seu Estado devastado. "Eu não o faria se a situação no Meio-Oeste não fosse tão catastrófica." Em situações de desastre, a Agência de Proteção Ambiental pode reduzir os requisitos de produção de etanol, o que poderia liberar uma grande quantidade de milho para rações animais. Grassley, um forte defensor do etanol, rejeitou essa proposição, mas nos últimos dias muitos setores dependentes do milho pressionaram o governo a agir.
Um quarto da safra de milho dos Estados Unidos é usado para biocombustíveis e não para consumo humano ou rações animais, e essa porcentagem está crescendo. Defensores e críticos do etanol debatem sobre as suas repercuções no preço da gasolina, mas isso certamente beneficiou os fazendeiros, que não viam tamanha demanda por seu milho há décadas.
No lado perdedor da equação estão os criadores de gado bovino, suíno e de frangos, além dos consumidores. A mais recente projeção do governo diz que os preços dos alimentos subirão até 5,5% neste ano. Alguns produtos, incluindo cereais e ovos, devem subir cerca de 10%.
Um porta-voz do Departamento da Agricultura informou que a proposta de Grassley seria analisada. Na semana passada, o secretário da Agricultura, Ed Schafer, disse que seu departamento faria "todo o possível" para ajudar os produtores rurais.
Nos últimos dias, o preço do milho caiu em relação aos picos atingido recentemente porque os operadores se convenceram de que o governo liberaria terras reservadas para conservação.
A idéia de afrouxar determinações sobre o etanol, embora também possa causar um baixa no preço do milho, é disputada. "Há diferentes forças em ação na administração que estão basicamente disputando sobre como isso deve sair", disse Brent Erickson, um vice-presidente executivo da Biotechnology Industry Organization, uma organização de Washington que acompanha a questão.
Keith Collins, o ex-economista-chefe do Departamento de Agricultura tem um estudo dizendo que metade do forte aumento do preço do milho nos últimos anos se deve à demanda para a produção de etanol. Essa visão diverge fortemente da visão do ex-chefe de Collins, Schafer, que disse numa conferência em Roma que somente uma porcentagem mínima do aumento dos preços mundiais dos alimentos se deve à produção americana de etanol.
"Temos visto uma tremenda gama de conseqüências inesperadas" do requisito de quantidades crescentes de etanol serem adicionadas à gasolina, disse Collins.
O economista, que foi contratado pela companhia de alimentos Kraft para preparar seu relatório, disse que ficaria surpreso se o Departamento de Agricultura não liberasse algumas terras de conservação.
A Casa Branca será obrigada a enfrentar a questão do etanol no mês que vem.
Os Estados estão qualificados a pedir dispensa do mandato sobre o etanol de milho com base em que a commodity está prejudicando a economia ou o meio ambiente.
Em abril, o governador do Texas, Rick Perry, fez exatamente isso, dizendo que o mandato "equivocado" estava devastando o setor de criação de animais do Texas. Ele pediu uma grande redução dos requisitos sobre o etanol para liberar milho para ser usado como ração animal.
*David Streitfeld escreve para o ?The New York Times?