Folha de S Paulo
SÃO PAULO - Falando aos berros contra a legislação eleitoral, que limita o repasse de verbas federais às prefeituras durante três meses, Lula foi ao extremo de acusá-la de "falso moralismo" e exemplo do "lado podre da hipocrisia brasileira".
Curioso é que o acesso anti-republicano e populista tenha vindo à luz no epílogo de uma semana marcada por mais um escândalo na República do Compadre. Esqueçamos Vavá -"arruma dois pau pra eu" é choro de pobre. A suspeita da mão pesada da Casa Civil na transação da Varig é coisa de gente grande.
Trata-se de um negócio que custou na ponta final à Gol US$ 320 milhões, para o qual a TAM estaria disposta a desembolsar no total US$ 738 milhões -US$ 418 milhões a mais. Tudo parece ser muito nebuloso ou claro demais, a depender do ângulo que se queira ver.
E não há imagem mais esclarecedora e sintomática do moderno capitalismo brasileiro do que aquela em que Nenê Constantino e seu filho, Constantino Jr., estão no elevador do Palácio do Planalto, rumo à sala de Lula, acompanhados pelo compadre-amigão do presidente, Roberto Teixeira. Este era o advogado dos vendedores, mas conduzia os compradores até o chefe da nação. Um dos sócios da VarigLog diz que o advogado-compadre embolsou US$ 5 milhões em honorários pelos bons serviços prestados.
Muito sorridente nesta imagem, Nenê é o mesmo que em outubro de 2007 foi fotografado de cara amarrada e pedra na mão, ameaçando atirá-la contra o fotógrafo, quando chegava para depor no inquérito sobre o cheque de R$ 2,2 milhões que pagou ao ex-senador Joaquim Roriz. O rei emergente da aviação é a prova viva de que é preciso carregar pedras para chegar aos céus.
O grampo telefônico em que Cezar Busatto, chefe da Casa Civil do governo gaúcho até anteontem, admite que estatais alimentam esquemas de corrupção política, afunda de vez a gestão tucana de Yeda Crusius na lama. Ela está em apuros -e vai derretendo.