É como correr nas nuvens
Uma nova geração de esteiras ergométricas permite que se treine sem sofrer as conseqüências do impacto repetido dos pés no solo
Rafael Corrêa
Fotos Divulgação |
A Lifestyle: híbrido de piscina e esteira, permite queimar três vezes mais gordura |
O maratonista americano Dathan Ritzenhein há quatro anos se prepara para disputar a segunda Olimpíada de sua carreira, em Pequim, daqui a cinco meses. Em março do ano passado, seu sonho parecia desfeito. Ele sofreu uma fratura – grave o suficiente para tirá-lo das pistas – no terceiro metatarso, osso da parte intermediária do pé. O rompimento foi causado pelo impacto recorrente com o solo, durante a rotina de treinos e competições. Oito meses depois, para surpresa de colegas e treinadores, Ritzenhein conseguiu atingir a marca necessária para representar os Estados Unidos nos Jogos chineses. Sua salvação foi uma esteira desenvolvida com tecnologia inspirada em pesquisas da Nasa, a agência espacial americana. A G-Trainer, criada pela Alter-G, empresa do Vale do Silício, faz parte de uma nova geração de esteiras capazes de reduzir o peso do atleta. A G-Trainer, no caso, o reduz em até 80%. Seu segredo está numa bolsa de ar que envolve o corpo do corredor da cintura para baixo. A pressão do ar dentro da bolsa é maior do que a externa, gerando uma força que eleva o corpo e faz com que ele quase flutue. A conseqüência disso é a diminuição do impacto com a esteira, o que permitiu a Ritzenhein continuar treinando sem sentir dores.
As esteiras de corrida começaram a se popularizar a partir dos anos 50. Na época, o médico americano Robert Bruce elaborou um exame de capacidade cardíaca em que o paciente se exercitava enquanto se mediam seus batimentos. Nesse meio século, as esteiras evoluíram, ganharam sensores para avaliar o rendimento do corredor e até dispositivos de entretenimento. Os sistemas de amortecimento criados para diminuir os efeitos do impacto, no entanto, ainda são pouco eficazes. Uma pessoa de 80 quilos que corre a 8 quilômetros por hora submete seu joelho a um impacto de 200 quilos a cada passada. As esteiras com os melhores sistemas de amortecimento conseguem reduzir essa força em, no máximo, 30%. "Com um equipamento como a G-Trainer, é possível recuperar o atleta, fortalecendo a região machucada, sem que ele perca o condicionamento físico", diz Paulo Zogaib, professor de medicina esportiva da Universidade Federal de São Paulo. A G-Trainer é usada atualmente nos centros de treinamento dos times americanos de basquete, como Chicago Bulls e Phoenix Suns. Já foi utilizada para recuperar jogadores como Shaquille O’Neal e Andres Nocioni.
Também da nova geração de esteiras que oferecem recursos terapêuticos, a Lifestyle, fabricada pela empresa inglesa Hydro Physio, é um híbrido de piscina e esteira. A Lifestyle usa a hidroterapia para abrandar o estresse físico da corrida, sem diminuir a carga do exercício. Por estar imerso na água, o corredor precisa fazer mais força para se movimentar. Segundo a Hydro Physio, a esteira queima até três vezes mais gordura em comparação com as esteiras convencionais, o que a torna ideal para tratar pessoas obesas, por exemplo. Não sai barato levar para casa a G-Trainer ou a Lifestyle. Ambos os modelos custam por volta de 75.000 dólares, contra 6.000 dólares de uma esteira convencional das mais caras.
Com reportagem de Marcio Orsolini
Como funciona a G-Trainer 1) O corredor entra na bolsa de ar e puxa um zíper que a deixa hermeticamente fechada 2) Sensores detectam o peso do corredor. Baseado nessa informação, um computador aciona uma bomba que infla a bolsa com a quantidade de ar adequada 3) A pressão do ar dentro da bolsa, maior que a do exterior, cria uma força que empurra o atleta para cima, da mesma maneira que o gás empurra a rolha numa garrafa de champanhe 4) A esteira faz com que o corredor fique até 80% mais leve, diminuindo o impacto durante o exercício 5) A esteira é recomendada para acelerar a recuperação de atletas após cirurgias e para diminuir o desgaste causado pela rotina de treinos. Também pode ser usada no tratamento da osteoporose |
Em forma no espaço Para os astronautas que vivem na Estação Espacial Internacional, a 375 quilômetros da Terra, fazer ginástica é tão importante quanto comer ou dormir. A atividade física diminui a perda de massa muscular e óssea decorrente da permanência prolongada num ambiente sem gravidade. Um dos equipamentos mais utilizados nos exercícios no espaço é o TVIS, sigla em inglês para esteira com sistema de isolamento de vibração. Para não saírem flutuando, os astronautas são presos à esteira por correias nos ombros e nos quadris. O atrito constante com as amarras acaba por machucar a pele dos astronautas e, em alguns casos, deixa cicatrizes. É o preço que se paga para que músculos e ossos não definhem. |