Seria cômico, se não fosse inquietante, o amadorismo dos artistas da cúpula governamental. Entendem tanto de estratégia e geopolítica quanto de mecânica quântica relativista. Emprenham os ouvidos de um presidente bronco com uma profusão de asneiras; e ele tudo aceita e repete incontinente sem ter a menor noção sobre coisa alguma. Foi assim com a recente crise entre Colômbia e Equador, que teve a inoportuna intromissão do truculento morubixaba Hugo Chávez e o palpite infeliz dos sectários socialistas do Itamarati que abandonaram o Brasil e passaram a servir exclusivamente ao PT.
Das inúmeras bobagens divulgadas, a mais gritante foi a de que a crise chegara ao fim após um simples pedido colombiano de desculpas pela invasão territorial do Equador. De repente, toda literatura disponível sobre condução de conflitos está equivocada e é, portanto, inválida. Carl Von Clausewitz e Sir Julian Corbett foram engavetados, e os comissários Celso Amorim e Mangabeira, promovidos a bambambãs da matéria. E também não lhes bastaram as lições da História, porque os indigitados escudeiros de Lula da Silva não parecem dar muita importância às lições do passado.
Vamos repetir: um conflito só termina, quando o objetivo político gerado pelos interesses de um dos atores é alcançado e convalidado sem risco de contestação. Para isso acontecer, normalmente, os fatores de instabilidade devem ser eliminados. É assim desde quando Caim investiu contra Abel.
Na crise de Cuba, o fator de instabilidade eram os mísseis balísticos. Depois que a União Soviética pediu arrego, o objetivo político dos americanos foi atingido. Aquela crise específica, no complexo cenário da Guerra Fria entre o mundo livre e o mundo socialista, de fato, chegou ao fim sem degenerar para uma terceira guerra mundial.
A Primeira Guerra Mundial teve causas subjacentes que resultaram numa crise que se transformou em guerra. Contudo, apesar do armistício, nenhum objetivo político, a rigor, foi alcançado. Portanto, o conflito regrediu da condição bélica para uma crise latente; esta recrudesceu, e eclodiu a Segunda Guerra Mundial. Por isso, conforme pontificou Sir Winston Churchill, a segunda guerra foi a continuação da primeira, e as duas constituíram um só conflito com uma crise político-estratégica global de permeio. A Europa continuava a ser um caldeirão fervente, e os fatores de instabilidade orbitavam em torno do nacionalismo, um perene causador de guerras, que a grande sangria entre 1914 e 1918 não conseguiu esfriar. Ora, se um armistício não é condição suficiente para o fim de um conflito, muito menos um pedido de desculpas.
Com o apoio escancarado do cacique Chávez e o beneplácito velado do companheiro Lula da Silva, as FARC continuam a desestabilizar a região com narcotráfico, terrorismo e imposição do socialismo; e esse cenário contribui para o objetivo político da Venezuela, por mais absurdo que pareça, de sovietizar a América Latina. O Equador, na esteira da Bolívia, já caiu nas malhas de Hugo Chávez. Felizmente, nenhuma dessas republiquetas tem poder nacional de se mobilizar para a guerra.
No início da tutela petista, quando indagadas sobre as providências que estavam sendo tomadas para proteger a fronteira do Brasil com a Colômbia do tráfico de drogas e da eventual infiltração de guerrilheiros das FARC, as autoridades brasileiras, sempre mal-informadas, invariavelmente respondiam que essas ameaças não existiam. Alegavam que a própria floresta amazônica se encarregava de neutralizar qualquer risco. Acontece que os bandoleiros traziam e trazem pasta de coca e cocaína refinada pelo Putumayo (Rio Içá), que desemboca no Solimões, e poupa os traficantes das agruras de uma viagem através da selva fechada. Às vezes, eles vão a Brasília rever amigos e tirar passaportes.
A crise nas fronteiras do noroeste sul-americano está latente, mas viva; e o Brasil, graças a uma diplomacia decadente e a estrategistas de capivarol, ainda não enxergou a direção da ameaça.