– Tudo para proteger o primeiro-casal
Os cartões de débito do governo de São Paulo não são nem remotamente parecidos com os cartões de crédito corporativos do governo federal. Mas atenção! Essa não é ainda a distinção política mais importante. A diferença que conta é outra: não há figurões do governo de São Paulo com cartões para gastar livremente. O governador José Serra, por exemplo, não tem um “ecônomo” — ou oito — para cuidar do seu cartão. A primeira-dama do estado, Mônica Serra, idem. Se vocês procederem a uma pesquisa, encontrarão um dado interessante: entre janeiro e agosto de 2004, Maria Emília Évora, que cuidava das despesas de Marisa Letícia, mulher de Lula, gastou a bagatela de R$ 441 mil, R$ 198 mil dos quais sacados em dinheiro.
A operação desencadeada pelo “Gabinete de Crise” do governo Lula - estrelado por Dilma Rousseff e Franklin Martins - busca, de fato, proteger, como direi sem parecer jocoso?, as chamadas “jóias da coroa”. E o fez em três etapas:
- tentando impor o sigilo dos gastos do primeiro-casal em nome da segurança nacional;
- tentando criar uma CPI escancaradamente oficial para limitar eventuais investigações;
- tentando arrastar para o centro do imbróglio o governo de São Paulo.
O terceiro item em particular é o que se chama, em política ou na guerra, de “arma de dissuasão” — ainda que esse armamento não possa disparar um tiro. O que PT está propondo aos tucanos é dançar o minueto da impunidade: “Sejamos calmos na investigação da lambança, ou nós os atingiremos também”. Ao tentar enfiar o governo Serra na crise, está, à sua maneira, propondo uma negociação.
E qual é a reivindicação do Planalto? “Deixem o casal longe disso; nada de bulir com as Évoras”. Se preciso, o PT fornece algum outro peixe pequeno — pode ser até aquele ministro da Pesca, de aparelho nos dentes e ar, digamos, um tanto alheio ao mundo real —, mas ninguém toca no tubarão. Ou eles saem enlameando todo mundo. Com a ajuda de parte da imprensa,
– O alvo deixa de ser FHC e passa a ser Serra
Observem que, durante alguns dias, o PT ficou meio aparvalhado, sendo vencido pelo noticiário. Ensaiou o movimento de sempre: “A culpa é de FHC”; “No governo FHC, também era assim”. Mas esse truque já começou a cansar. Lula está no poder há mais de seis anos. Assim, foi preciso atrair para a lama aquele que é apontado, até agora, como o mais forte candidato a sucedê-lo: Serra. Anotem aí: sempre que alguma sujeira petista aparecer, Serra é que pagará o pato de agora em diante. E assim será enquanto for o favorito à sucessão de Lula.
Todos os governos de estado e prefeituras têm algo parecido com um cartão de débito. Se não têm, a coisa é pior. Nunca ninguém censurou o sistema de cartões, e sim o seu uso abusivo, para benefícios pessoais. Em São Paulo, a outra diferença importante é que se gasta um dinheiro previamente determinado. Não é um buraco sem fundo. Se todos têm, por que a insistência em atingir o governo Serra? Ora, alguém quer mesmo que eu desenhe?
– Eles só querem uma troca de peixes miúdos
E o que fazer em casos assim? Se Serra vai apanhar sempre que alguma irregularidade petista for apontada, não seria melhor deixar a canalha pra lá, evitando expor-se, assim, à sua sanha reativa? Ao contrário: os tucanos devem é enfiar o pé no acelerador.
Mas o PSDB não estaria moralmente obrigado a instalar uma CPI em São Paulo? Bobagem! O PT não obriga ninguém a nada moralmente. Seria preciso, antes, que tivesse uma moral. A CPI de Romero Jucá é uma vergonha. CPI governista é coisa de pilantras. As oposições têm é de tentar criar a comissão mista no Congresso, e os petistas e assemelhados que lutem para instalar uma em São Paulo — desde que achem ao menos o fato determinado.
Pode haver irregularidades em São Paulo também? Ah, claro que pode. Identificados os responsáveis, pau neles. Ocorre que, no Estado, não terá como pegar peixe graúdo por uma razão simples: eles não têm cartão. Então se explica a tática dos petistas. Querem fazer uma troca de “punidos”: eles entregam alguns peixinhos federais, e São Paulo entrega alguns peixinhos — à falta de peixões — estaduais.
O PSDB que não caia no truque. O PT quer CPI em São Paulo? Que consiga o número necessário de assinaturas e o fato determinado para instalá-la. As oposições querem CPI Mista no Congresso? Idem.
Entrevista:O Estado inteligente
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