No começo do escândalo do mensalão, quando aquelas denúncias de compra de parlamentares começaram a vir à tona, abismava-me ao ver a que ponto havia chegado o parlamento brasileiro. As declarações recentes do deputado José Eduardo Cardozo, secretário-geral do PT, são claras e inequívocas: "não tenho dúvida de que houve situações de ilegalidade com a destinação de recursos financeiros de forma indevida a aliados políticos". O que se passava na cabeça daqueles homens que usavam aquela casa como se fosse um prostíbulo, só que no lugar de seus corpos vendiam suas idéias? Porque tanta ganância? Haveria prazer naqueles atos? Tal qual as meretrizes, talvez o negócio fosse dinheiro, apenas isso. É certo que nos subterrâneos, nos rendez-vous de toda sociedade, convivem de gigolôs e aprendizes a prostitutas. O que difere uma casa de tolerância do parlamento brasileiro, é que as "moças" da casa de tolerância não hipotecaram seus corpos como representante de um povo, elas vendem uma mercadoria que lhes pertence, enquanto que o ocupante do parlamento vende sua opinião depois de ter sido hipotecada a serviço do povo, ou seja, vende uma mercadoria que não é só dele, que não lhe pertence. Comecei então a procurar pessoas de bem parlamento brasileiro. Mirava em um e acompanhava o seu desempenho, suas posturas e opiniões. Alguns pareciam se indignar com aquilo tudo, mas a maioria não tem opinião formada de nada, apenas uma conveniência da hora. Um exemplo que me chocou foi do então parlamentar Eduardo Paes, na época do PSDB, opositor e ferrenho orador contra os aqueles atos ilícitos cometidos na república do PT, tornou-se secretário de esportes do Rio de Janeiro e passou a elogiar o governo que tanto combatia antes. Seu exemplo deixou claro que o certo hoje é o errado amanhã, o errado hoje é a certeza da correção de amanhã. Não se está lá para defender os princípios ou ideais, sejam os da situação ou da oposição. Assuntos de relevância pública só são considerados quando o clamor popular os obriga a fazer algo. Se esse clamor cessa, instala-se a pasmaceira, e o trabalho volta a ser a procura pela liberação de suas emendas e de verbas para "as suas bases". São eles, em sua maioria, os "dinheiristas", termo que ouvi certa vez de um interlocutor revoltado com alguns desdobramentos políticos. Sentados à mesa de um restaurante, batendo com a mão, forte a ponto de chacoalhar copos e garrafas, chamando a atenção das mesas vizinhas, dizia-me: "fulano é 'dinheirista', não é oposição nem situação, é 'dinheirista'!, essa turma só pensa em dinheiro e não tem compromisso com ideais." Ouvia atenta e com a admiração que nutro pelas pessoas que são capazes de defender suas posições. Ouvia com o respeito que tenho pelos coerentes, seja qual for sua inclinação ideológica. A discordância de idéias é parte da democracia, e almejar ideais de consenso é acreditar em um regime opressor e totalitário. Compreendo e louvo a mudança de opinião, quando isso representa amadurecimento intelectual. Mas alguns ideais são básicos e independem da linha ideológica. E assim aquela palavra "dinheirista" ficou na minha cabeça. Acreditei piamente nesse meu interlocutor. A veemência com que defendia seus argumentos e com que atacava os tais "dinheiristas" era coerente com o que penso, e imaginava que isso também ocorresse com ele. O tempo passou e me reservou uma surpresa. Aliás, esse é o lado bom do tempo. Ele cura feridas, dissolve nós, amadurece e principalmente, mostra a verdadeira face de uma pessoa. Pois o tempo me fez compreender que aquele ferrenho interlocutor nada mais era que um dos "dinheirista". O tempo me explicou que aquele bater na mesa, aquele espumar de raiva ao defender um ideal coletivo não passava de uma crise de rebeldia adolescente de um filho bastardo do "dinheirismo". Essa compreensão que o tempo me trouxe, foi de grande representatividade para a minha percepção da política brasileira. Este é um fato que deve ser corriqueiro a muitos e muitos brasileiros que como eu, ainda insistem em acreditar. Bem-aventurado seja o dia em que os guardiões da ética e da população mais humilde não sejam aqueles para os quais a corrupção significa um bom negócio, mas descrito assim porque ele não fez parte. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
terça-feira, fevereiro 19, 2008
O ‘DINHEIRISTA’ por Adriana Vandoni
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
fevereiro
(481)
- A Sociologia do Pessimismo dos motoristas de táxi
- Nelson Motta Descontrole remoto
- Clipping de 29 de fevereiro
- Viaje a seu risco e perigo
- Restrições ao meu otimismo
- A perversidade das Farc
- Eliane Cantanhede - Abrindo o apetite
- Dora Kramer - As lides da embromação
- Clóvis Rossi - Crimes, pequenos ou grandes
- Celso Ming - Sacrifícios a Moloque
- Sou, mesmo, um pequeno burguês
- Sócio incômodo
- Luiz Garcia - Fígado, e também tutano
- Merval Pereira - Visões de Estado
- Míriam Leitão - A reforma da vez
- Lula fala sobre economia e o brasileiro no Rio
- Clipping de 28 de fevereiro
- Miriam Leitão Nas duas pontas
- Merval Pereira - A aposta
- Jânio de Freitas - Caminhos do roubo
- Dora Kramer - Soro da verdade
- Clóvis Rossi - O Estado caixa-preta
- Celso Ming - Questão de prioridade
- A resposta de FHC às grosserias de Lula
- Clipping de 27 de fevereiro
- O ministro não se abala
- AUGUSTO NUNES- O Magnífico Reitor e seu lixo de luxo
- Roberto DaMatta O lugar da polícia
- Confusão na reforma
- Villas-Bôas Corrêa A ressurreição do escândalo Pal...
- Míriam Leitão - O veio da mina
- Merval Pereira - O ilusionista
- Dora Kramer - A correlação da força
- Clóvis Rossi - O melhor cinema brasileiro
- Celso Ming - Morro abaixo
- Clipping de 26 de fevereiro
- Ligações duvidosas
- Emprego vitalício
- Nada de novo em Havana
- Dora Kramer - Fazer acontecer
- Celso Ming - Sem riscos
- Celso Ming - O que é bom a gente esconde
- Clóvis Rossi - Fome mil
- Eliane Cantanhede - Amizade colorida
- Merval Pereira - O papel de Lula
- Míriam Leitão - Arco de fogo
- Rubens Barbosa Fidel - O homem e o mito
- A quem serve a tal liberdade de imprensa?
- Clipping do dia 25/02/2008
- Clipping do dia 24/02/2008
- Clipping do dia 23/02/2008
- Antonio Sepulveda- "El Comandante é o outro".
- AUGUSTO NUNES- SETE DIAS
- Miriam Leitão
- Merval Pereira
- Daniel Piza
- João Ubaldo Ribeiro
- Mailson da Nóbrega
- Alberto Tamer
- Suely Caldas
- Celso Ming
- Dora Kramer
- Verdades, mentiras e versões
- Mais recursos para a educação básica
- A reforma tributária possível
- CLÓVIS ROSSI
- Esboço positivo
- DANUZA LEÃO
- FERREIRA GULLAR
- De devedor a credor
- Contratos sob suspeita
- Miriam Leitão
- Merval Pereira
- RUY CASTRO
- Forno de Minas
- CLÓVIS ROSSI
- Tailândia, Brasil
- Convenioduto
- Celso Ming O frango sob ameaça
- Dora Kramer
- O fim das ameaças à imprensa
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Alice Braga
- Stephen Kanitz
- MILLÔR
- André Petry
- J. R. Guzzo
- REINALDO AZEVEDO
- Diogo Mainardi
- RADAR
- Roberto Pompeu de Toledo
- O momento econômico e os méritos da gestão Lula
- O roubo dos laptops: que informações foram levadas?
- As ações da Igreja Universal contra a Folha de S.P...
- Liminar do Supremo revoga Lei de Imprensa
- Naufrágio mostra os perigos do transporte na região
- O futuro sem Fidel
- Independência de Kosovo anima outros separatistas
- Míssil dos EUA destrói satélite
- A ONU cria banco de sementes no Ártico
-
▼
fevereiro
(481)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA