Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Cobertor curto

Em 2010, se tudo correr bem, somente o Espírito Santo estará produzindo cerca de 18,7 milhões de metros cúbicos diários de gás natural. Haverá também algum incremento de produção na Bacia de Campos e se espera que o campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, entre em operação, ampliando a oferta de gás natural no mercado interno. Mas até o fim deste ano o Brasil só poderá contar com mais 7,5 milhões de metros cúbicos diários escoados da Bacia do Espírito Santo pelo novo gasoduto que liga o estado à malha do Sudeste.

A produção interna acrescida da importação vinda da Bolívia não consegue atender a toda a demanda potencial do mercado brasileiro. A recuperação da economia tem aumentado o consumo de energia elétrica, e, para que não haja risco de apagão, as usinas térmicas precisam operar com mais regularidade, de forma a se poupar água dos reservatórios das hidrelétricas.

Diante da oferta limitada de gás natural, as autoridades serão obrigadas a ter um plano de contingenciamento para o caso de as usinas térmicas operarem a todo vapor. Nessa eventualidade - se, por exemplo, o regime de chuvas for desfavorável no verão do ano que vem -, outros consumidores terão de ser sacrificados, com prejuízos não só para eles, mas para a economia como um todo. O Brasil vive, então, um momento delicado nessa questão do gás, pois a Bolívia, da qual o país é o maior cliente, se propõe a atender, simultaneamente, à demanda da Argentina. Vale frisar que, na época que a Petrobras fez grandes investimentos na Bolívia para desenvolver e pôr em produção os campos de gás cujas reservas sequer tinham sido devidamente avaliadas, a Argentina era também grande exportadora de hidrocarbonetos. E só marginalmente dependia do gás boliviano. O Brasil assinou, então, contratos de longo prazo com a Bolívia, e no começo pagava pelo gás mesmo sem utilizá-lo. E a demanda acabou se expandindo mais rapidamente do que a oferta.

Nesse ínterim, a produção argentina estancou, e nossos vizinhos - que adotaram uma política de preços irreais no mercado doméstico, e com isso dilapidaram suas próprias reservas - hoje precisam importar mais gás boliviano.

A partir de hoje, os presidentes dos três países se reúnem em Buenos Aires para discutir o problema. A conversa não será fácil, pois eles estarão tratando de um cobertor curto. Mas Lula não pode negociar a segurança de abastecimento do mercado brasileiro, sob qualquer hipótese

Arquivo do blog