| Paul Krugman* Em 1956, Adlai Stevenson, concorrendo contra Dwight Eisenhower, tentou fazer do estilo político de Richard Nixon - candidato a vice-presidente de seu adversário - uma questão. A nação, ele advertiu, estava em risco de tornar-se "uma terra de medo e calúnias; a terra da insinuação maliciosa, da pena venenosa, dos telefonemas anônimos, das fraudes, pressões e atropelos; a terra de esmagar e vencer a qualquer custo. Assim é a 'Nixolândia'."
A citação vem de Nixoland, a história política dos anos 1964 a 1972 a sair em breve, escrita por Rick Perlstein, autor de Before the Storm (antes da tempestade). Como mostra Perlstein, a advetência de Stevenson foi vã: naqueles anos os EUA tornaram-se de fato a terra do medo e da calúnia, da política do ódio.
E ainda é. Ultimamente, aliás, até o Partido Democrata parece estar-se transformando numa "Nixolândia".
A aspereza da disputa pela nomeação democrata é, aparentemente, bizarra. Ambos os candidatos no páreo são inteligentes e interessantes. Ambos têm agendas progressistas (embora eu acredite que Hillary Clinton seja mais séria sobre alcançar um sistema de saúde universal, enquanto Barack Obama demarca posições que solaparão seus próprios esforços). Ambos têm amplo respaldo das bases do partido e são vistos favoravelmente pelos filiados democratas. Os apoiadores de cada candidato não terão problema de apoiar o que for nomeado.
Por que, então, há tanto veneno na campanha?
Sem fingir imparcialidade: a maior parte do veneno tem saído dos apoiadores de Obama. Não sou o primeiro a assinalar que a campanha de Obama parece perigosamente próxima de tornar-se um culto da personalidade. Já tivemos isso no governo Bush. E realmente não queremos isso de novo.
O que é particularmente triste é a maneira como muitos apoiadores de Obama parecem felizes com a aplicação da "regra Clinton" - o termo usado para descrever a maneira como críticos e a a mídia tratam qualquer ação ou declaração dos Clintons, por mais inocente que seja, como prova de intenção malévola.
O principal exemplo de regra Clinton nos anos 90 foi a maneira como a imprensa cobriu o caso Whitewater. Um pequeno negócio imobiliário fracassado transformou-se na base de uma investigação multimilionária que durou vários anos e não encontrou a menor evidência de delito por parte dos Clintons. Mas o "escândalo" tornou-se o símbolo da alegada corrupção do governo Clinton.
Na atual campanha, a observação inteiramente razoável de Hillary de que foi preciso a coragem e habilidade de Lyndon Johnson para a realização do sonho de Martin Luther King foi lançada como uma espécie de difamação ultrajante ao líder histórico. E o mais recente exemplo veio quando David Shuster da rede MSNBC, depois de assinalar que Chelsea Clinton estava trabalhando na campanha de sua mãe - como filhos adultos de aspirantes presidenciais sempre fazem - perguntou: "Não é meio como Chelsea ser explorada de alguma maneira bizarra?" Shuster foi suspenso, mas como a campanha de Hillary assinala corretamente, "a observação faz parte de um padrão mais amplo".
A regra Clinton vai além dos Clintons. Por exemplo, Al Gore foi submetido à regra Clinton durante a campanha de 2000: tudo que ele dizia, e algumas coisas que não disse (não, ele nunca afirmou que criou a internet), era brandido como prova de falhas de caráter.
Agora, a regra Clinton está funcionando em favor de Obama. Mas seus apoiadores não deveriam se comprazer disso.
Por um lado, Hillary ainda pode ser nomeada - e se os apoiadores de Obama se importam com alguma coisa além da adoração do herói, eles deveriam desejar a vitória dela. Por outro, se a história conta, caso Obama obtenha a nomeação, ele rapidamente estará sujeito à regra Clinton. Isso sempre acontece com os democratas.
Mais do que tudo, porém, os progressistas deveriam perceber que a Nixolândia não é o país que queremos. Racismo, misoginia e difamação são maneiras de distrair os eleitores dos problemas, e as pessoas que se importam com os problemas têm interesse em tornar inaceitável a política do ódio.
Um dos momentos mais promissores da campanha presidencial ocorreu no mês passado quando alguns líderes judaicos assinaram uma carta condenando a campanha caluniosa de que Obama era secretamente muçulmano. Uma boa aposta é a de que alguns desses líderes preferem que Obama não seja presidente; no entanto, eles compreenderam que há princípios mais importantes que a vantagem política imediata.
Gostaria de ver mais momentos como esse, talvez começando com declarações veementes de ambos os candidatos democratas de que respeitarão seu adversário para a nomeação e o apoiarão na eleição geral.
* Paul Krugman escreveu este artigo para 'The New York Times' |