Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

ANTONIO DELFIM NETTO Um PT em 1945?

NA MESMA semana em que terminou a 2ª Guerra Mundial, um numeroso grupo de empresários brasileiros dos setores agrícola, comercial, industrial e de serviços (na época tinham orgulho de chamarem-se a si mesmos de "classes produtoras") reuniu-se em Teresópolis, de 1º a 6 de maio de 1945, ainda sob a ditadura de Vargas (que foi deposto em 29/10/45). Eram, na maioria, pequenos e médios empresários que, com disposição, arte e engenho, tinham sabido aproveitar a interrupção do comércio externo. Autênticos e bem-sucedidos resultados da natural "substituição de importações"... As suas lideranças eram todas intelectualmente fortes, com visão progressista e respeitadas por sua coragem cívica (João Daudt D'Oliveira, Euvaldo Lodi, Iris Meinberg, Brasílio Machado Neto e Roberto Simonsen).
A que se propunha a conferência? A nada mais nada menos do que sugerir caminhos que levassem à construção de instituições que colocassem o Brasil nos trilhos, com: 1º) um desenvolvimento social e econômico robusto; 2º) num ambiente democrático; 3º) com equilíbrio interno (sem inflação e sem déficit fiscal) e externo (com equilíbrio no balanço comercial) e 4º) com maior justiça social.
Com a perspectiva histórica de 60 anos, a síntese das sugestões da conferência expressas na "Carta Econômica de Teresópolis" mostra que, se elas tivessem sido atendidas, estaríamos hoje bem melhor no que respeita à educação e à saúde. Em matéria de energia, teríamos evitado os racionamentos dos anos 60 do século passado e o apagão de 2001. Na questão fiscal e sua conseqüência monetária, não teríamos conhecido a indexação e a hiperinflação. Por fim, mas não menos importante, em matéria cambial, nunca teríamos construído os impasses dos anos 60 e 90 do século 20. A restrição da oferta de energia e a acumulação dos déficits em conta corrente, que limitaram o crescimento nacional, certamente não chegariam a acontecer.
Mas o fato mais notório da "Carta de Teresópolis" é que ela antecipou em 57 anos a "Carta aos Brasileiros", que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva. Dos seus cinco objetivos básicos, o primeiro (como na proposta de Lula) era o "combate ao pauperismo", elegante anglicanismo que significava, na época, o combate à fome.
Pena que no limiar da volta à democracia, em 1945, eles não tivessem tido a idéia de criar o "Partido do Trabalho", isto é, de empresários e trabalhadores, pelo menos daqueles que não eram manipulados pelo velho e sempre novo "peleguismo" sindical de tradição varguista, que às vezes ainda nos assombra...

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