Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 05, 2007

RUY CASTRO Unplugged

RIO DE JANEIRO - Você entra em qualquer restaurante a quilo e, para não perder tempo comendo, encontra tomadas por toda parte para, se quiser, ligar o notebook e continuar trabalhando. Não será por falta delas que você deixará de participar de uma conferência na hora do almoço com 20 outros executivos, cada qual numa cidade ou, cuíca, país.
Mas, supondo que considere a hora do almoço sagrada e se recuse a trabalhar e mastigar ao mesmo tempo, há sempre o recurso de ligar o iPod e se isolar. Assim, alheio ao mundo exterior, você poderá engolir uma suave salada de faufilhas com breufas e relaxar ouvindo as 948 melhores faixas do Metallica estocadas no aparelhinho plugado à sua orelha.
Bem, não é preciso ser tão radical e cortar as pontes com o mundo. Afinal, existe o celular. Com ele você pode gerar, reproduzir, manipular, receber, transportar, corrigir, salvar, desenvolver, deletar, definir, ampliar, imprimir, personalizar e enviar uma quantidade ilimitada de informações ou imagens inúteis. Pode também fotografar sem querer o próprio tímpano. E pode ainda telefonar para o escritório e se inteirar das últimas que aconteceram desde que você saiu de lá há cinco minutos.
Some a isso os aparelhos de TV ligados neste e em outros restaurantes, botequins, hospitais, academias, bancos, shoppings, elevadores, vans, táxis, aeroportos e aviões. É um bombardeio de informação, pior do que qualquer blitzkrieg da Segunda Guerra. Nesta, ao menos, podia-se correr para os abrigos.
Há uma nova meta pela qual lutar. Todo ser humano deveria ter direito a xis minutos diários de exclusividade dos próprios sentidos, sem precisar plugá-los a nenhuma geringonça do demônio ou deixá-los ser invadidos e envenenados por imagens e sons que ninguém pediu para existir.

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