BRASÍLIA - Quem já vendeu um carro conhece a lógica do sistema capitalista. O dono sempre acha que o seu produto vale mais do que os compradores aceitam pagar. Entra-se então numa discussão bizantina sobre algo inexistente: qual deveria ser o "preço justo".
Num sistema liberal, onde estão em vigor as regras do mercado, não existe "preço justo". O que há é disponibilidade para pagar ou não.
Os ternos bem cortados de Lula possivelmente não seriam comprados pelos amigos metalúrgicos do petista no ABC. Uma peça de vestuário como as que veste o presidente fica na faixa dos R$ 4 mil a R$ 5 mil na rua Oscar Freire, em São Paulo. Muita gente considerará esse preço injusto. O Planalto deve pagar pelos costumes lulistas com o cartão de crédito corporativo da Presidência. Ninguém por lá ousa pensar em injustiça. Assim funciona o capitalismo.
Não sei se Lula já vendeu algum automóvel, mas ontem o presidente usou a expressão "preço justo". Foi num discurso palanqueiro sobre a imposição da licença compulsória ao remédio Efavirenz, utilizado por pacientes portadores do vírus da Aids. Eis a frase do petista: "Hoje é o Efavirenz, mas amanhã pode ser qualquer outro comprimido, ou seja, se não estiver com os preços que são justos (...) nós temos que tomar essa decisão. Entre o nosso comércio e a nossa saúde, vamos cuidar da nossa saúde".
Lula foi aplaudido. Nada contra sua preocupação com a saúde. O ponto é outro. Se é mesmo verdade que o governo do Brasil esgotou todas as negociações com o laboratório dentro das regras, a quebra de patente não é motivo de comemoração -mas de lamento pelo fracasso dos limites estabelecidos. O presidente parecia ontem tomado de júbilo por intervir numa decisão de uma empresa privada. Um ato falho, talvez. Ficou alegre pela falta de capitalismo no país.
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