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segunda-feira, janeiro 01, 2007

Serra prega ruptura na 'pasmaceira' econômica e abre oposição a Lula


Plantão | Publicada em 01/01/2007 às 18h29m

Wagner Gomes, O Globo Online

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra, fez no Palácio dos Bandeirantes seu primeiro discurso de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num tom mais emocionado, durante transmissão de cargo no Palácio dos Bandeirantes, Serra usou boa parte de sua fala, de 30 minutos, para criticar a economia do país.

E respondeu aos que, segundo ele, lhe perguntam desde que venceu o primeiro turno das eleições em São Paulo sobre como serão as relações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

- Seremos oposição no plano federal justamente porque não somos iguais - disse Serra, acrescentando que vai procurar ter com Lula 'as melhores relações institucionais possíveis'.

E desejou boa sorte a Lula.

- A boa sorte do presidente da República significa boa sorte do nosso povo. Como é evidente à oposição, cabe se opor. Não a tudo e a todos, mas ao que a seu juízo atende contra o espírito das leis - disse Serra, acrescentando que não será adepto do 'quanto pior melhor', e que saberá separar o que beneficia o país e o que o atrasa.

Serra afirmou que a política da 'pasmaceira' em relação à economia tem consagrado a mais perversa tendência, depois de 'um século de prosperidade'. Segundo ele, a semi-estagnação já se prolonga por 25 anos.

- Antes de ontem, ela poderia ser explicada pela superinflação devastadora. Ontem, pela terapia antiinflacionária e conjunturas externas turbulentas. Hoje, quando o Brasil é praticamente o último da América Latina e dos emergentes e o céu da economia internacional é de brigadeiro de seis estrelas, os resultados ruins não são colhidos da árvore da vida, da fatalidade, mas da fragilidade da política macroeconômica hostil à produção e aos investimentos - disse.

Segundo Serra, essa fatalidade conta a 'história de um erro, quando não de uma covardia'.

O novo governador afirmou que entre a estagnação e a estabilidade, o Brasil 'parece ter preferido as duas'. Para ele, é vital para o Brasil e para São Paulo a ruptura deste ciclo.

- Um país que não cresce acaba não distribuindo renda, mas equalizando a pobreza. E a economia da pobreza não pode ter como base a pobreza da economia - disse Serra.

Para o novo governador de São Paulo, a falta de desenvolvimento pune os mais necessitados e os torna clientela 'cativa do assistencialismo'. Serra disse que a assistência social é necessária, mas é preciso dar emprego e renda para as famílias para que a emancipação seja verdadeira. Isso só é possível com crescimento econômico, afirmou.

- Ao contrário, o vertiginoso aumento das remessas de lucro das empresas estrangeiras aqui instaladas e dos investimentos de empresas nacionais no exterior, recursos que se vão para a criação de empregos lá fora, mostra que não há falta de poupança ao Brasil para aumentar capacidade produtiva e empregos - disse.

O governador afirmou que faltam oportunidades lucrativas de investimento, que são 'espantadas' pela pior combinação de juro e câmbio do mundo, em meio a uma carga tributária 'sufocante'.

Serra prometeu ser 'militante incansável' da Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

- Por que insisto tanto na questão do crescimento se as políticas macroeconômicas não são de responsabilidade do governo do estado?

Ele mesmo respondeu:

- Porque a estagnação tira postos de trabalho, arrecadação, escolas, saúde e segurança.

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O que Serra disse

Abaixo, os principais trechos do discurso do governo de São Paulo, José Serra (PSDB), ao tomar posse hoje. A íntegra do discurso está disponível na sessão Discursos (leia aqui):


- Meu governo vai procurar convencer, não cooptar. Vamos buscar a maioria para realizar um programa, não para viver o conforto de não ter adversários. Aliás, deixo aos presentes uma reflexão: tanto melhor será para o país e, no nosso caso, para o povo de São Paulo, se os aliados do governo jamais se esquecerem de ter convicções e se a oposição convicta jamais esquecer de que tem responsabilidades. A democracia supõe a existência de oposição. Uma oposição que, entendo, há de ser também propositiva.


- A população brasileira cobra de todos nós eficiência, respeito à coisa pública, honradez. Cobra segurança, desenvolvimento econômico e social e empregos. Fazemos parte, governador e parlamentares, da linha de frente de uma das melhores coisas que a cultura ocidental produziu: a democracia representativa. Mas vivemos no Brasil, um período de crise de valores. Não se trata de uma indisposição passageira ou de uma simples pane. Trata-se de uma crise mesmo. Crise moral, que prospera numa economia onde faltam empregos e sobra a estagnação. Crise política que se alimenta da teimosa incoerência entre os discursos e as ações na vida pública.


- Tenho para mim que a ineficiência crônica, a corrupção, o compadrio, o fisiologismo desmoralizam a democracia. Ser eficiente e ético no trato da coisa pública é um imperativo dos democratas. Ser ético significa, entre outras coisas, evitar o loteamento de cargos, que traz ineficiência, estimula a corrupção e suas causas e conseqüências. Não fizemos loteamento no primeiro escalão, não estamos fazendo nem faremos loteamento no segundo escalão.




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