O Globo |
30/1/2007 |
A retomada das negociações da Rodada de Doha, decidida em uma minicúpula reunida em Davos, ao final da reunião do Fórum Econômico Mundial, não é uma garantia de que vá se chegar a um consenso para uma maior liberalização do comércio internacional, mas para o Brasil é, sem dúvida, uma vitória política importante. Além de ter sido o inspirador, e de, informalmente, liderar o G-20, grupo de países emergentes que se uniram em Cancún em 2003 para fazer face às pressões dos países ricos, a retomada de negociações foi precedida por um apelo enfático do presidente Lula no Fórum de Davos, "para que os países ricos adquiram a consciência de que, se não houver um acordo na Rodada de Doha, não adianta culpar o Iraque, não adianta tentar achar que as guerras que acontecem pelo mundo serão resolvidas com ajuda financeira de quando em quando. É na possibilidade do crescimento econômico, da geração de empregos, da distribuição de renda que nós vamos viver num mundo tranqüilo". Ontem, o chanceler Celso Amorim prosseguiu as negociações em Genebra, reunido tanto com os embaixadores representantes do G-20 como com Peter Mandelson, pelo lado europeu, e Susan Schwab, pelo americano. Há um ambiente mais favorável às negociações, dizem diplomatas brasileiros que as acompanham, embora, até o momento, nenhuma proposta oficial tenha sido apresentada formalmente. Mas os diversos grupos que reúnem representantes das economias emergentes ganharam tal dimensão política que, durante o Fórum de Davos, houve uma sessão onde se discutiu a possibilidade da ampliação do G-20 como organismo que assuma as mesmas funções, pelo lado dos países emergentes, que nos últimos 30 anos foram exercidas pelos ministros das Finanças dos países desenvolvidos no G-7, ou o papel político dos principais líderes mundiais no G-8. Atualmente, o G-20 trata com mais ênfase das negociações agrícolas no âmbito da Organização Mundial do Comércio, mas a maioria dos participantes do debate considera que tanto o G-7 quanto o G-8, representando o pequeno grupo dos países mais ricos do planeta, já esgotaram sua capacidade de ação e hoje estão ultrapassados, antevendo um novo papel para o G-20, que já tem seu lado financeiro, no momento mais teórico e menos prático que o grupo que discute os acordos agrícolas. O diretor do Instituto de Estudo da Economia e Política Mundiais, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Yu Yongding, disse no debate que a China acredita firmemente no potencial do G-20 para ajudar a governança mundial dentro de novas bases, e quer participar desse novo papel. Ao contrário, a China não tem interesse em ingressar no G-8, garantiu Yu: "Nós não queremos entrar para o clube dos homens ricos". O chanceler Celso Amorim deu mais ênfase ao trabalho do G-20 dentro das negociações da Organização Mundial do Comércio. O Brasil não tem interesse em que o G-20 se transforme em mais uma instância burocrática internacional, embora muitos dos debatedores tenham defendido a idéia de que, com a informalidade com que se organiza no momento, o G-20 acabará tendo dificuldades para atuar de maneira mais efetiva nas demais negociações econômicas internacionais. Por obra da tecnologia moderna, assisti ao vivo aqui em Paris, através do G-1, o portal de notícias da Globo, ao debate entre os candidatos à presidência da Câmara. Mesmo que os votos não mudem, como era a impressão generalizada ao seu final, uma coisa pelo menos já mudou e deverá influir na votação: nunca antes neste país uma disputa pela presidência da Câmara se transformou em assunto político de interesse direto do eleitor não parlamentar como agora. Tanto que os candidatos se sentiram obrigados a ir ao debate para explicar suas posições para além dos eleitores tradicionais. E esses eleitores certamente estão levando um pouco mais em conta desta vez o que pensam os eleitores do lado de fora. A maneira extremamente profissional com que a TV Câmara tratou a transmissão do debate, e toda a solenidade que o cercou, sem transformar em um simples bate-papo entre correligionários o que era, na verdade, uma disputa de idéias para dirigir um dos principais poderes da República, deram uma dimensão política maior ao encontro. Nas perguntas dos jornalistas credenciados na Câmara por órgãos de imprensa independentes dos interesses imediatos dos deputados, e nas dos populares, ficou claro que os escândalos recentes não foram esquecidos, e, seja qual for o presidente eleito, será cobrado por sua atitude diante de companheiros envolvidos, ou que venham a se envolver, em negócios escusos. O deputado Arlindo Chinaglia, por exemplo, saiu-se bem na defesa de sua base eleitoral, ancorada nos partidos do mensalão, mas deixou transparecer para o grande público quais são seus interesses políticos imediatos. Já o candidato tucano Geraldo Fruet, do grupo independente, pode ter perdido votos no baixo clero, mas manteve firme sua posição de representar uma "terceira via" não governista, mais preocupado com os interesses maiores da instituição. Acho que o atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo, ao, durante o processo, ter se distanciado do governo e, ontem mesmo, ter se colocado como um candidato para barrar o excesso de poder do PT, pode representar uma alternativa independente, em caso de segundo turno. Chinaglia, ao dizer que o PT abriu mão de apresentar um candidato para apoiar Aldo Rebelo no processo de substituição de Severino Cavalcanti, esqueceu-se de que naquela ocasião o PT não tinha a menor condição política de ser alternativa de pacificação da casa. Aldo Rebelo surgiu exatamente pela capacidade de agregar apoios fora do PT, mas mesmo assim ganhou por apenas 15 votos |
Entrevista:O Estado inteligente
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