Editorial |
O Estado de S. Paulo |
23/1/2007 |
Com baixo endividamento e lucros crescentes, as empresas de capital aberto têm boas condições para aumentar os investimentos, mostrou reportagem de Renée Pereira, publicada sexta-feira no Estado. Entre 1998 e 2006, segundo levantamento da consultoria Economática abrangendo 246 empresas abertas, houve notável melhora da gestão financeira das companhias. Graças a isso, as companhias reúnem no momento excelentes condições para quitar suas dívidas ou para tomar novos empréstimos, ampliar seus investimentos e aumentar sua capacidade instalada. Se as autoridades tivessem a percepção correta do que significa essa maior vitalidade das companhias abertas, junto com as condições favoráveis dos mercados, poderiam pensar melhor em como criar um ambiente estimulante para os investimentos privados e assim acelerar, de fato, o crescimento econômico. Em 1998, as empresas analisadas tinham dívidas de R$ 96 bilhões, para um lucro operacional (calculado antes do pagamento de juros e tributos) de R$ 22,6 bilhões, ou seja, deviam quatro vezes o lucro operacional. No ano passado, esses valores passaram, respectivamente, a R$ 240 bilhões e R$ 134 bilhões, ou seja, a relação caiu pela metade. A mudança ocorreu principalmente entre 2002 e 2006, no primeiro governo Lula. O endividamento ficou constante, enquanto o lucro operacional duplicava. Um sinal de que as companhias alimentam “incerteza com relação à economia”, assinalou o presidente da Economática, Fernando Exel. Setores como siderurgia e metalurgia, que enfrentaram enorme endividamento no passado, foram beneficiados pela crescente demanda internacional e o aumento do preço das commodities. Entre 2002 e 2006, enquanto as dívidas das empresas do setor aumentaram 86%, o lucro operacional cresceu 279%. Companhias de energia, que apresentavam balanços com maus resultados até 2005, conseguiram recuperar-se a ponto de reduzir as dívidas de 8,39%, nos últimos quatro anos. As empresas privadas são o motor do investimento, no Brasil. Grosso modo, em 2006, para um aumento total dos investimentos da ordem de R$ 400 bilhões (20% do PIB), o governo federal entrou com apenas R$ 15 bilhões (menos de 1% do PIB). Mas os dados mostram que as empresas poderiam investir mais, tendo em vista tanto as condições favoráveis do mercado de capitais como a evolução macroeconômica. Em menos de três semanas, neste mês, empresas brasileiras lançaram US$ 2,4 bilhões em bônus para serem colocados no mercado internacional, beneficiando-se da liquidez farta e de custos declinantes. ISA, Petrobrás, Cosan, Cesp, GP Investimentos, Minerva, Independência e Sul América pretendem tomar recursos entre US$ 150 milhões e US$ 554 milhões em prazos de cinco a dez anos, pagando juros anuais de 7,25% a 10,25%. Uma das emissões é feita sob a forma de bônus perpétuos, sem prazo de vencimento. Estas emissões já se beneficiam da diminuição recorde da taxa de risco do Brasil, que chegou sexta-feira a 187 pontos básicos (acima dos juros dos títulos de mesmo prazo emitidos pelo Tesouro norte-americano), estreitando a distância entre o risco Brasil e o risco do conjunto de países emergentes. Câmbio e juros dão sinais macroeconômicos positivos. A maioria dos economistas acredita na estabilidade cambial, ou seja, num cenário de baixo risco para as empresas endividadas em moeda estrangeira. E a redução da taxa Selic de 5,25 pontos porcentuais entre os meses de novembro de 2005 e 2006 - prevendo-se nova queda, na próxima reunião do Copom - é outro fator que desanuvia o ambiente para as empresas, notadamente as de grande porte e mais lucrativas, com maior poder de barganha ao tomar crédito. Sem gastar um tostão, o governo pode estimular a transformação em investimentos dos lucros e do crédito farto disponível para as empresas. Se não o faz é porque fornece sinais errados aos investidores, dando mais ênfase ao setor público carente de recursos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, janeiro 23, 2007
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