Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 24, 2007

O governo recomeça pelo avesso por Villas-bôas Corrêa

NoMínimo

Desde que mergulhou de cabeça na campanha para a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem tocando o governo pelos atalhos da extravagância. Na arrancada para o primeiro turno, em 3 de outubro de 2006, na contramão da informalidade passou o exercício da Presidência à ministra Dilma Rousseff, Chefe da Casa Civil e que ora fulge como a principal articuladora do ambicioso Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC das promessas de resgate de quatro anos de medíocre desempenho administrativo.

Mas, como é indispensável manter as aparências, na dedicação em tempo integral à caça ao voto, Lula congelou o governo no arremedo de ponto facultativo. O governo não fechou para a campanha, mas passou a tocar apenas a rotina indispensável. Com a decisão adiada para o segundo turno, a 29 de outubro e a eleição consagradora por mais de 60% dos votos, o modelo passou pelos ajustes às singularidades da caminhada pelo avesso da tradição modelada pela experiência.

Um dos argumentos dos defensores do bis do mandato é justamente a continuidade do que vem dando certo e é aprovado pelo voto. Ajustes políticos atendem aos casos pontuais. A regra é que o governo mantenha o núcleo e acelere a marcha para superar os resultados do primeiro mandato.

Lula desdenhou o conselho dos mais velhos. Eleito, entrou em férias por conta própria. E liberou geral. No período natalino era mais difícil encontrar um ministro em Brasília do que um deputado na Câmara. Compreende-se o constrangimento em mão dupla: como poucos, só os mais chegados, foram confirmados nos postos – ministros Guido Mantega, da Fazenda; a insubstituível Dilma Rousseff na gerência da máquina; Márcio Fortes, das Cidades, um astro em ascensão; Tarso Genro, de grande utilidade na improvisação de justificativas para as trapalhadas oficiais e acho que dá para fechar a lista – a turma na corda bamba dançou a quadrilha do sumiço para não se esborrachar no ridículo.

O PAC foi montado a portas fechadas. Não propriamente como um segredo de Estado, como um assunto do Palácio do Planalto. E o seu lançamento gerou o impacto desejado: alçou às manchetes da mídia, foi abertura dos noticiários de televisão, levou à Brasília os governadores de 25 estados, com duas ausências. E enfeitou a platéia para o discurso do presidente Lula, ali no meio termo entre a autolouvação e as cautelas para não descambar para o exagero.

Como montagem de lançamento de novo produto ou do relançamento de fórmula atualizada, um razoável sucesso com os rombos táticos da pressa e da mania da originalidade.

Por mais alguns dias, a cerimônia e o medo de ser acusado de torcer pelo pior, manterá as críticas nos limites da cortesia.

Mas, por pouco tempo. Os resmungos e silêncio de vários governadores antecipam o clima das reuniões programadas com o presidente e ministros para a tentativa de acomodar queixas e atender às reivindicações já anunciadas pela maioria.

Mas o nó cego terá que ser cortado de um golpe ou desatado no Congresso durante o calvário para a aprovação de projetos fundamentais, como a reforma política e do sistema previdenciário. Ou o governo está enganado ou quer fazer os outros de bobo. Ele não pode cultivar ilusões quanto ao Legislativo afogado na desmoralização da crise ética que o inutiliza como parceiro de um esforço de recuperação do governo e de uma sacudidela no marasmo de quatro anos de êxitos inegáveis no controle da inflação e de desastres administrativos que se expõem na buraqueira da rede rodoviária, nas ferrovias em pandarecos, nos portos congestionados.

O Congresso já deveria estar arrumado com a prévia escolha dos novos ministros e a ajuda dos governadores eleitos. Pois se o parlamentar não vota contra o interesse do seu Estado, este Congresso não desgruda o olho do seu umbigo. E negociará cada voto na barraca do toma lá, dá cá.

Com a cutucada na esperança, o segundo mandato começa agora.

Pelo avesso.

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