Feliz 2007!
Primeiro post de 2007 - Feliz Ano Novo! -, e lá vem o Babalorixá...
Lula fez um discurso de posse (íntegra aqui) que é praticamente repeteco de sua campanha eleitoral. Nunca fomos e nunca seremos tão felizes, eis a síntese, por mais estranha que possa parecer. E o homem fez também uma profissão de fé antidemocrática. Para quem sabe ler ao menos. Já chego lá. Antes, algumas observações.
As mistificações vão-se espalhando ao longo do texto, cuidadosamente redigido por Luiz Dulci, com o auxílio de algumas figuras de linguagem de manuais de retórica. Logo à partida, ficamos sabendo que a primeira eleição de Lula “foi o resultado de um poderoso movimento histórico”, do qual o Apedeuta é “parte e humilde instrumento”. E a reeleição seria a confirmação desse movimento. Não sei se entendem: Lula não se insere na rotina das eleições democráticas. Não! Marca um rompimento. E os que com eles disputaram padeciam de falta natural de legitimidade. Ou como interpretar o que segue: “Em outubro, nossa população afirmou de modo inequívoco que não precisa nem admite tutela de nenhuma espécie para fazer a sua escolha."?
Ora, se sua eleição implicou a declaração de uma espécie de independência, um resultado que lhe fosse adverso seria a manifestação de uma subordinação – não democrática, portanto. A questão é de lógica elementar: para o PT, democracia boa é aquela em que o partido vence. Quando ele é derrotado, ou eles pregam golpe de Estado, como fez Tarso Genro quando FHC foi reeleito, ou eles tentam fraudar o resultado das urnas, como fizeram em São Paulo com o dossiê fajuto.
Lula insiste em alimentar a mitologia de que é um sobrevivente da fome, que escapou da morte para ser presidente da República. Se notarem bem, esse aspecto de vitória pessoal, ímpar, é a exata contramão daquele suposto “movimento histórico”. OK. Lula não quer ser coerente nem racional. Ele está apenas delimitando o campo do seu partido e deixando claro que não abriu mão de ter seus inimigos – as tais “elites”. Elite, como sabemos, são aqueles que não concordam com o PT. Um banqueiro ou um grande industrial deixam de sê-lo se aderem ao projeto petista. O partido é uma espécie de donatário de Legiões da Honra ou de títulos de nobreza – no caso, nobreza operária.
O esforço pelo desenvolvimento sustentado agora tem nome próprio e sigla: Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aquele que, até a eleição, faria o país crescer 5%. Tanto Lula como os seus ministros já desistiram dos números. Mas o golpe de marketing está dado e vai pautar a imprensa por um bom tempo.
Profissão de fé autoritária
Onde foi que achei isso, que ninguém até agora viu? Aqui, ó, prestem atenção: “Reafirmamos, finalmente, nossos compromissos éticos em uma perspectiva republicana. Nada mais ético do que a promoção do bem comum e da justiça.” O camarada Stálin, para ficar na grande referência, ou o bolivariano Hugo Chávez, para ficar na versão apalhaçada, não diriam melhor. Afirmar que a promoção do bem comum e da justiça é, por si mesma, ética é flertar com o totalitarismo.
Quem transgride leis democraticamente estabelecidas em nome da promoção da justiça está sendo ético ou está contribuindo para depredar o Estado de Direito? A resposta é óbvia. As ditaduras comunistas todas sempre estiveram convictas de estar promovendo o “bem comum”. O satanizado Pinochet dizia não fazer outra coisa.
Bem comum e justiça foram, ao longo da história, e são ainda hoje esconderijo de notórios canalhas. Não servem como definição de ética. Mas a questão não tem alcance apenas teórico. Com esse trecho, Lula e quem lhe redigiu o discurso estão querendo passar uma borracha na história do PT, nos seus crimes óbvios, sem, no entanto, reparem bem, prometer não repetir a dose.
O presidente reivindica para o seu governo a promoção da igualdade como nunca houve “nestepaiz”. E arremata dando uma “lição”: isso, sim, é que ética, não essa bobagem que anda por aí de cumprimento das leis, por exemplo.
Lula não aprendeu nada. Lula não esqueceu nada. E, portanto, pode repetir tudo, não só o mandato.
As mistificações vão-se espalhando ao longo do texto, cuidadosamente redigido por Luiz Dulci, com o auxílio de algumas figuras de linguagem de manuais de retórica. Logo à partida, ficamos sabendo que a primeira eleição de Lula “foi o resultado de um poderoso movimento histórico”, do qual o Apedeuta é “parte e humilde instrumento”. E a reeleição seria a confirmação desse movimento. Não sei se entendem: Lula não se insere na rotina das eleições democráticas. Não! Marca um rompimento. E os que com eles disputaram padeciam de falta natural de legitimidade. Ou como interpretar o que segue: “Em outubro, nossa população afirmou de modo inequívoco que não precisa nem admite tutela de nenhuma espécie para fazer a sua escolha."?
Ora, se sua eleição implicou a declaração de uma espécie de independência, um resultado que lhe fosse adverso seria a manifestação de uma subordinação – não democrática, portanto. A questão é de lógica elementar: para o PT, democracia boa é aquela em que o partido vence. Quando ele é derrotado, ou eles pregam golpe de Estado, como fez Tarso Genro quando FHC foi reeleito, ou eles tentam fraudar o resultado das urnas, como fizeram em São Paulo com o dossiê fajuto.
Lula insiste em alimentar a mitologia de que é um sobrevivente da fome, que escapou da morte para ser presidente da República. Se notarem bem, esse aspecto de vitória pessoal, ímpar, é a exata contramão daquele suposto “movimento histórico”. OK. Lula não quer ser coerente nem racional. Ele está apenas delimitando o campo do seu partido e deixando claro que não abriu mão de ter seus inimigos – as tais “elites”. Elite, como sabemos, são aqueles que não concordam com o PT. Um banqueiro ou um grande industrial deixam de sê-lo se aderem ao projeto petista. O partido é uma espécie de donatário de Legiões da Honra ou de títulos de nobreza – no caso, nobreza operária.
O esforço pelo desenvolvimento sustentado agora tem nome próprio e sigla: Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aquele que, até a eleição, faria o país crescer 5%. Tanto Lula como os seus ministros já desistiram dos números. Mas o golpe de marketing está dado e vai pautar a imprensa por um bom tempo.
Profissão de fé autoritária
Onde foi que achei isso, que ninguém até agora viu? Aqui, ó, prestem atenção: “Reafirmamos, finalmente, nossos compromissos éticos em uma perspectiva republicana. Nada mais ético do que a promoção do bem comum e da justiça.” O camarada Stálin, para ficar na grande referência, ou o bolivariano Hugo Chávez, para ficar na versão apalhaçada, não diriam melhor. Afirmar que a promoção do bem comum e da justiça é, por si mesma, ética é flertar com o totalitarismo.
Quem transgride leis democraticamente estabelecidas em nome da promoção da justiça está sendo ético ou está contribuindo para depredar o Estado de Direito? A resposta é óbvia. As ditaduras comunistas todas sempre estiveram convictas de estar promovendo o “bem comum”. O satanizado Pinochet dizia não fazer outra coisa.
Bem comum e justiça foram, ao longo da história, e são ainda hoje esconderijo de notórios canalhas. Não servem como definição de ética. Mas a questão não tem alcance apenas teórico. Com esse trecho, Lula e quem lhe redigiu o discurso estão querendo passar uma borracha na história do PT, nos seus crimes óbvios, sem, no entanto, reparem bem, prometer não repetir a dose.
O presidente reivindica para o seu governo a promoção da igualdade como nunca houve “nestepaiz”. E arremata dando uma “lição”: isso, sim, é que ética, não essa bobagem que anda por aí de cumprimento das leis, por exemplo.
Lula não aprendeu nada. Lula não esqueceu nada. E, portanto, pode repetir tudo, não só o mandato.