O Estado de S. Paulo |
30/1/2007 |
Não se pode dizer que o debate dos candidatos à presidência da Câmara ontem tenha produzido vencedores ou perdedores, em termos de desempenho pessoal ou de conquista de votos para a eleição de quinta-feira. No máximo, o encontro de Arlindo Chinaglia, Aldo Rebelo e Gustavo Fruet frente às câmeras permitiu a confirmação do lugar comum de que quem ganha é a sociedade com a exposição de pontos de vista e afirmação de compromissos para posterior cobrança. Mas uma evidência se impôs ali: o PT é um partido com vocação inequívoca para a polêmica. Sua natureza convida mais ao conflito que à conciliação. A disputa na Câmara, que começou tranqüila, fava contada para o governo, com uma oposição dividida entre o apoio do PFL à reeleição do atual presidente e o PSDB perdido em sua constrangedora ausência de rumo, agora é campo de atrito aberto entre os dois candidatos inicialmente governistas (Aldo Rebelo acentuou o verbo “fui” para definir sua posição de aliado), com o candidato petista deixando-se levar pelo temperamento e aceitando todas as provocações dos oponentes. A indignação de lideranças petistas depois do debate - contra Rebelo, não contra o oposicionista Fruet - aumentou a animosidade. Passaram recibo quando poderiam ter simulado indiferença de vencedor. Arlindo Chinaglia exagerou ao apontar a existência de “ódio” e “preconceito” contra o PT. Se dissesse que o partido desperta fortes emoções e que elas nem sempre são positivas, teria posto as coisas de forma mais adequada e exibido atributos de serenidade indispensáveis a quem postula o cargo. Quando Aldo Rebelo se referiu ao risco da concentração de poder nas mãos de um só partido caso o PT vença a eleição e Gustavo Fruet apontou o significado simbólico do apoio de Severino Cavalcanti e companhia, Arlindo Chinaglia reagiu com exasperação. Mas seus adversários não estavam inventando nada. A reação espinhosa confirma que se algo atua contra o partido não é o preconceito, mas um conceito firmado a partir de suas atitudes. A decisão de disputar a presidência da Câmara a despeito da manifestada preferência do presidente da República pela reeleição de Aldo Rebelo - opção menos traumática - foi sustentada na necessidade de o partido recuperar competitividade política e compensar outras perdas, como a redução de ministérios sob seu controle. Nada demais no fato de um partido ter projeto de poder. Só não pode reclamar quando compra uma briga e a força de seu ataque dá margem ao contra-ataque do oponente em igual proporção. Da mesma forma, o PT não pode pretender que sua complacência com gente envolvida em escândalos de corrupção seja aceita sem críticas. A constatação é real. Se ao partido soam desconfortáveis as cobranças e as imputações que lhe são feitas, caberia a ele mudar. Teve tempo e oportunidade de sobra, mas preferiu dobrar a aposta quando se sentiu fortalecido pelas urnas e prosseguiu na lógica da “luta continua”. Pode até ganhar a parada, mas o preço será o do conflito permanente. Uns e outros O projeto de rearrumação interna do PSDB já começou a ser arquitetado em São Paulo. Um de seus itens primordiais - o fortalecimento de uns e o enfraquecimento de outros na estrutura partidária - é para ser posto em prática sem alarde. Entre esses “outros” estão figuras do tucanato paulista ligadas a Geraldo Alckmin e vistas como entraves ao plano do governador José Serra de fazer do atual prefeito, o pefelista Gilberto Kassab, o candidato à prefeitura em 2008. Certos “alckimistas” são tidos como personagens de terceira linha no cenário nacional, que dispõem de espaço desproporcional à sua real importância. Como têm capacidade de atrapalhar a aliança com o PFL na eleição municipal de daqui a dois anos, passo-chave para a armação da disputa presidencial em 2010, à medida do possível terão racionada sua cota de oxigênio político. O objetivo é desidratá-los para que, no momento da decisão da candidatura municipal, já não disponham de músculos suficientes para insistir na candidatura própria. Seja de Alckmin ou de algum outro tucano ligado a ele. Hoje dentro do PSDB se atribui ao barulho desse grupo o erro de cálculo cometido na decisão sobre a candidatura presidencial de 2006. Em retrospectiva, os tucanos analisam que a expectativa de crescimento de Alckmin era um fenômeno inexistente, referido exclusivamente no cenário de São Paulo. Não querem, em 2008, a reedição da briga de foice interna que paralisou o PSDB no início do ano passado, enquanto Lula recuperava forças para a campanha pela reeleição. Oficialmente, porém, não há nada. Continuam todos amigos de infância. Mas a amizade dos grupos ligados a José Serra e Geraldo Alckmin é tão sólida quanto a aceitação do senador Tasso Jereissati na presidência do PSDB e a veracidade da versão segundo a qual a crise no partido está superada. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, janeiro 30, 2007
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