Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Aliança perigosa



Artigo - Osias Wurman
O Globo
29/1/2007

A perigosa e estridente aliança política entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã , merece cautelosa análise e atenção redobrada do governo brasileiro.

Irã e Venezuela são grandes exportadores de petróleo e pertencem à Opep. Hugo Chávez está desenvolvendo uma indústria bélica na Venezuela, país outrora símbolo da democracia e do pacifismo no continente. Sua parceria com o Irã poderá proporcionar-lhe, no futuro, acesso à energia nuclear para fins não tão pacíficos, como seria o desejável. Seria uma verdadeira catástrofe sul-americana.

Néstor Kirchner, presidente da Argentina, evitou encontrar-se com Mahmoud Ahmadinejad quando este visitou recentemente a América do Sul, sob pretexto de assistir à posse do novo presidente do Equador, Rafael Correa. Na Argentina, persiste o mal-estar com o governo iraniano após o indiciamento de vários de seus funcionários que atuavam na embaixada em Buenos Aires como facilitadores do atentado terrorista suicida contra a organização judaica Amia, em 1994, quando morreram 86 argentinos e 300 ficaram feridos. O Irã recusa-se a extraditar os indiciados.

Chávez e Ahmadinejad têm um forte ponto em comum no ódio aos judeus e ao Estado de Israel. Ambos deveriam mirar-se no exemplo do ícone da revolução cubana, Fidel Castro, ídolo do líder venezuelano. Fidel, ao tomar o poder, expropriou os canaviais de grandes empresas, com destaque para as dirigidas por cubanos de fé judaica, além de nacionalizar as propriedades imobiliárias de importantes empreendedores judeus da ilha.

Sempre que pôde, Fidel manifestou sua oposição ao governo de Israel, nos primórdios de sua revolução.

No entanto, no ano passado, o veterano ditador demonstrou seu arrependimento pela postura do passado ao mandar edificar numa praça central de Havana um candelabro de sete braços, com dois metros e meio de altura, simbolizando a menorah judaica que adornava o Grande Templo do rei Salomão e é o brasão oficial do Estado de Israel. A sua intenção declarada foi homenagear a memória das vitimas do Holocausto. Atualmente o grande amigo do ditador é Rafi Eitan, ex-diretor geral do Mossad, o temível serviço secreto de Israel. Rafi está construindo 18 edifícios em Cuba e um super-shopping center . Um exemplo a ser seguido por seus dois fanáticos fãs, que tentam praticar a violação histórica de negar o maior crime de genocídio praticado contra um povo, o Holocausto, e o massacre de diversas minorias e inimigos políticos pelos nazistas.

Na Venezuela de hoje, a comunidade judaica vive momentos de apreensão por atitudes agressivas contra instituições culturais e sinagogas do país. Um clima de hostilidade estimulado pelos atos e declarações de Chávez ao lado de seu amigo Ahmadinejad.

Chávez deveria se inspirar no respeito nas palavras de seu ídolo, pai da revolução bolivariana a que tanto se refere, Simão Bolívar, que declarou: "Caracas não somente convidou, mas deseja ver entrar por seus portos todos os homens úteis que venham buscar asilo entre nós, e ajudar-nos com suas indústrias e conhecimentos, sem perguntar qual seja a parte do mundo que lhe deu a vida."

Chávez investe contra a liberdade de imprensa, expropria por decreto, ameaça investidores e impulsiona o líder cocaleiro Evo Morales, da Bolívia, em invasões de empresas, como ocorreu nas refinarias da Petrobras.

Cabe, finalmente, indagar sobre a iniciativa de entrega da Medalha Tiradentes a Chávez, no auge de suas iniciativas antidemocráticas, espoliadoras e belicistas.

Melhor seria tê-la deixado na gaveta, onde repousava desde 1999, ano em que foi outorgada, até sabermos de que lado colocar este perturbador líder populista.

Devemos homenagear um amigo ou um inimigo do Brasil e da paz mundial?

OSIAS WURMAN é jornalista e vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil. E-mail:owurman@globo.com.

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