Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 23, 2007

Clóvis Rossi - PAC, falar e fazer



Folha de S. Paulo
23/1/2007

À parte os indefectíveis elogios e as indefectíveis críticas ao tal PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como sempre ocorre com os pacotes econômicos, há nele um lado político positivo: muda o sinal que marcou o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O período 2003/06 foi caracterizado pela obsessão com a estabilidade. Nada contra a estabilidade. Tudo contra obsessões. Envenenam quem as tem.
Agora, o sinal (político) enviado pelo PAC é este: a estabilidade continua sendo um valor essencial, mas é igualmente essencial acelerar o crescimento. Ótimo.
O problema é que, como todo mundo diz, e o próprio presidente repete uma e outra vez, não há mágica em economia capaz de fazer o crescimento se acelerar só porque Lula e as torcidas de todos os times brasileiros querem, fora um ou outro tarado. Por isso, é fundamental que haja na ênfase no crescimento pelo menos um pouco da obsessão posta no primeiro mandato para manter a estabilidade.
O que não pode acontecer é o que houve com a violência no Rio. O presidente, já no discurso de posse, solenidade portanto carregada de simbolismo, falou em "terrorismo". Se tivesse com a violência o grau de preocupação que o Banco Central teve com a inflação, a Força Nacional de Segurança estaria nas ruas do Rio no máximo três dias depois da posse.
Nada. Passado um mês do surto de ataques do crime organizado, só agora a tal força (ainda por cima fraca em número de homens colocados à disposição do Rio de Janeiro) entrou em ação.
Aí, envia-se o sinal errado, o de que o governo fala muito, engrossa a voz, mas faz pouco ou nada. Aliás é uma característica de governos, e não apenas no Brasil: muita falação, pouca ação. O PAC é, talvez, a melhor chance de ver se o governo Lula faz ou só fala.

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