Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 25, 2007

VINICIUS TORRES FREIRE Riso e ranger de dentes pós-PAC

Blocos no Congresso, plano econômico, Estado ativo e vagas promessas de reforma insinuam nova coalizão lulista

BONS ECONOMISTAS de grandes bancos esculhambavam ontem o plano de Lula 2, na inauguração da nova casa do sindicato patronal dos bancos, a Febraban. Mas Márcio Cypriano, patrão de alguns deles, presidente do Bradesco e da Febraban, fazia elogios ao PAC. Louvor algo vaporoso, decerto, mas além da mera praxe banqueira, otimista sobre o aumento do crédito imobiliário e da atividade dos bancos de investimento no pós-PAC.
Em Brasília, o Banco Central se aprontava para fazer girar o mundo real e paralelo ao universo risonho do PAC. Lula, a premiê Dilma Rousseff e Estado-Maior recebiam a cúpula da siderurgia, à frente Jorge Gerdau, também o mais influente líder de empresa do país, embora a política empresarial tenha se tornado algo murcha no período democrático, descontado o lobby direto e propriamente dito. Para a semana, Lula volta a receber a cúpula da indústria de base, a Abdib, representante de interesses de empresas de construção, energia, teles e indústria pesada.
Trata-se dos setores empresariais eleitos pelo PAC. Não, não se trata aqui de picuinhas sobre lobby. Mesmo que se desgoste do pacote de Lula 2, seu plano vai muito além disso.
Interessa é que Lula pediu aos empresários que fizessem lobby político e social pelo PAC. Pode haver alguma novidade aí, "light" como o PAC, pois, afora as privatizantes, a grande empresa andava mais longe do Planalto nos anos FHC.
A política de aprovação do PAC vai ser dificultosa. Ao riso dos eleitos, já começa a se contrapor o ranger de dentes de opositores. Pelo plano Lula 2, os servidores federais não terão mais aumento algum pela próxima década. Como a CUT apelegada no governo Lula, repleta de servidores, lidará com o caso? Já há beiços, ainda secretos, também no Judiciário.
Os governadores estreantes ou reestreantes vão querer lascas grossas do dinheiro federal a fim de facilitar a tramitação do pacote. Querem dinheiro da CPMF, não querem perder dinheiro para os municípios no Fundeb (o fundo de redistribuição do dinheiro nacional para a educação básica e média). Querem pagar menos dívida para a União.
O empresariado que ficou fora do PAC organiza discretas cruzadas em direção à Jerusalém neodesenvolvimentista de Lula. Há o rolo do investimento bancado pelo FGTS, nesga das centrais oposicionistas, mas isso é pouca coisa.
Grande coisa é o que analistas políticos vêm observando desde o início da campanha para a eleição do sindicato dos deputados, vulgo eleição na Câmara: a ressurgência pré-carnavalesca dos blocões do baixo clero. O lulismo-petismo ressuscita a deputação de alta rotatividade, a migração de deputados para o calor do governismo. Engorda o PR (o ex-PL mensaleiro), inventa o blocão do PSB, PDT, PC do B e agregados; terá muitos restos a pagar pela adesão do PMDB. A "governança corporativa" da corporação estatal deve piorar bem com o custo da coalizão.
O governismo diz que o presidente da República tomou alguma lição da crise mensaleira; que se rendeu ao menos à necessidade de apresentar "reformas" e que isso demandará grande base no Congresso. Mas parece mesmo é haver indícios claros de que Lula que reproduzir e ampliar sua coalizão social e política.

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