O Globo |
24/1/2007 |
Um dos sub-temas em que estão divididos os debates deste ano do Fórum Econômico Mundial é a proeminência crescente das economias emergentes no mundo. Juntamente com o aumento da importância dos fornecedores de commodities; o fortalecimento das vozes individuais ou de pequenos grupos de pressão sobre as instituições e o reforçado papel dos consumidores diante dos produtores, as economias emergentes seriam parte do que está sendo chamado aqui de a equação da mudança de poder, isto é, os fatores que estão desafiando e transformando a realidade atual. Nesse contexto, a América Latina está contemplada com uma programação diversificada, mas apenas três países estão representados: Brasil e México, com seus presidentes e diversos ministros, e o Chile, com vários ministros. As discussões vão girar em torno da possibilidade de economias emergentes como Brasil e México encontrarem um caminho sustentável para crescer e se contraporem a China e Índia, que vêm dominando a economia mundial. O professor Albert Fishlow, historiador da Universidade de Columbia, em Nova York, colocou recentemente o México junto com os Brics - Brasil, Rússia, Índia e China - no grupo de emergentes que terão papel importante na economia mundial no futuro. Ao escolher os três países, e deixar de fora o performático candidato a ditador da Venezuela, Hugo Chávez, e seus pupilos não menos estridentes Evo Morales, da Bolívia, e Correa, do Equador, o Fórum Econômico Mundial definiu os países que considera relevantes dentro da economia mundial, mesmo que não apresentem performance de crescimento econômico condizente com o esperado, como México e Brasil. Ou que tenham menor presença econômica na região, caso do Chile, um país que caminha rapidamente para ter indicadores de Primeiro Mundo e é exemplo de produtividade e competitividade, embora não tenha importância econômica para ser visto como uma futura potência mundial. O Brasil, aliás, participará de diversos debates sobre as mudanças estruturais, como a promoção de competitividade e a produtividade, com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan; a internacionalização de empresas de economias emergentes, com o empresário Jorge Gerdau (Grupo Gerdau); os desafios para conciliar competitividade e demandas sociais na América Latina, com o empresário José Grubisich, da Braskem, como um dos seus expositores. O presidente Lula deu o mote do que poderá vir a ser sua tese principal aqui em Davos ao afirmar que o projeto de crescimento de seu governo não prescinde da democracia, o que seria uma forma indireta de criticar a China, ou de pelo menos chamar a atenção para o fato de que é mais fácil crescer sem que sejam respeitados os direitos dos trabalhadores, ou o meio ambiente, ou com a exploração do trabalho infantil. Além de reafirmar seu compromisso com a democracia, o presidente Lula ainda esclarece um recente comentário seu, que deixou dúvidas sobre esse compromisso. Em uma das reuniões para a elaboração do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado na segunda-feira, Lula teria ficado irritado com os empecilhos que eram colocados a cada projeto apresentado e desabafou: "Bom mesmo é na China, onde todo mundo obedece. Aqui, até o PT não me obedece". Se vê agora que a frase foi dita mais com tom de ironia do que com inveja do sistema chinês. Ou mesmo se havia uma inveja embutida nela, foi superada pelo entendimento de que, sem democracia e distribuição de renda, não há sentido em promover o crescimento econômico. A terceira vez em que o presidente Lula vem a Davos tem uma importância política implícita: é a primeira vez em que ele não vai simultaneamente ao Fórum Social Mundial, um encontro criado por petistas em acordo com vários "companheiros" do Terceiro Mundo, justamente para se contrapor a Davos. Essa decisão não deve ter sido fácil, mas mostrou-se acertada, pois ontem, mesmo não estando presente, o presidente Lula foi vaiado "in memoriam" por manifestantes, entre eles membros do MST, que protestaram contra a política fundiária e agrária do governo brasileiro. Já há algum tempo o "rei" do Fórum Social é o histriônico Chávez, e mais uma vez Lula demarca a diferença entre os dois, ressaltando a democracia e jogando suas fichas no desenvolvimento através da economia de mercado, em contraponto com o "socialismo do século XXI". O pouco destaque que a América Latina vem tendo nos últimos fóruns, especialmente devido ao protagonismo de China e Índia, fez com que os organizadores do encontro de Davos se preocupassem em destacar as atividades relativas à região. Ministros como os brasileiros Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento; Henrique Meirelles, presidente do Banco Central; Celso Amorim, das Relações Exteriores; Karen Poniachik, ministra da Energia do Chile; José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA; Andrés Velasco, ministro das Finanças do Chile; e empresários como o brasileiro Jorge Gerdau e o mexicano José Antonio Fernández Carbajal (da Femsa), que atuarão em diversos painéis e debates, também dariam entrevistas especiais para destacar o papel da região. A região será também objeto de uma reunião especial do Fórum em abril, no Chile, e por isso os debates terão também o papel de identificar quais questões merecerão o aprofundamento posterior. A influência de Chávez e seus seguidores no futuro da América Latina não deixará de ser analisada, embora indiretamente, quando se discutir, no painel de atualização da situação econômica da América Latina, os impactos econômicos da nacionalização das fontes de energia e sua influência em uma possível integração regional e como os investidores estão vendo o atual momento político da região. |
Entrevista:O Estado inteligente
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