Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 27, 2007

Os tucanos tentam livrar o estado da calamidade

Um caso de miséria construída

Destruído por sucessivas gestões ruinosas, Alagoas entra em colapso novamente


Leonardo Coutinho

O Jornal
Teotonio Vilela: ele encontrou os cofres vazios e uma feroz e organizada resistência

Há dez dias, uma greve sem precedentes levou 70% dos funcionários públicos do estado de Alagoas a cruzar os braços. Médicos se recusam a atender pacientes. A Polícia Civil abandonou os cidadãos à própria sorte. Os professores fecharam as escolas. Sindicalistas acamparam na Secretaria da Fazenda. Maceió, a capital, foi tomada por sem-terra, índios e estudantes que gritavam palavras de ordem contra o governador recém-empossado, Teotonio Vilela Filho. A convulsão começou em 15 de janeiro, quando Teotonio editou um decreto anulando um aumento de 100% nos salários de todos os servidores do estado. A benesse, concedida por seu antecessor, Ronaldo Lessa, começaria a valer integralmente neste mês. Ao assumir, Teotonio encontrou 5 milhões de reais no caixa e dívidas vencidas de 410 milhões de reais. Por isso, mesmo eleito com a ajuda de Lessa, ele decidiu cancelar o benefício.

A penúria de Alagoas se arrasta há vinte anos. No fim dos anos 80, o então governador Fernando Collor isentou os usineiros de pagar o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS). O efeito foi desastroso. A participação do setor sucroalcooleiro, o motor da economia local, na arrecadação caiu de 47% para 5%. As contas do governo entraram em colapso, e nunca se recuperaram. Em 1997, a perda de receita e a gestão perdulária dos sucessores de Collor levaram o estado a atrasar os salários dos servidores em oito meses. O governador Divaldo Suruagy renunciou. Lessa assumiu em 1999. De lá para cá, a situação não melhorou. Para se ter uma idéia do descalabro atual, o estado deve 41 milhões de reais a bancos que concederam empréstimos consignados aos servidores. Motivo: o governo descontou as prestações dos salários, mas não repassou o dinheiro aos bancos.

Ailton Cruz/O Jornal
Greve em Maceió: servidores pararam para garantir aumento de 100% nos salários

Hoje, as dívidas de Alagoas equivalem ao dobro de sua receita anual. O estado gasta mais do que arrecada, e o desperdício é crônico. Tudo o que entra no caixa é usado para sustentar a máquina pública. As condições de vida da população são as piores do país. Teotonio adotou um plano de emergência para as contas públicas e convenceu a Petrobras a antecipar o recolhimento de impostos. Com esse dinheiro, pagará o aumento salarial prometido por Lessa. Seus colegas Aécio Neves, de Minas Gerais, e José Serra, de São Paulo, enviaram técnicos para ajudá-lo a equilibrar as contas. No receituário estão demissões de servidores, o bloqueio do pagamento de fornecedores oficiais e a renegociação de todos os contratos firmados em gestões anteriores. A missão não é simples. Teotonio precisa destruir um legado de gerações de má gestão.

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