Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 28, 2007

CLÓVIS ROSSI -Moisés e as reformas

DAVOS - Pergunte a 10 empresários e acadêmicos o que é preciso fazer para destravar o crescimento do Brasil (e, no geral, da América Latina) e 9 deles responderão: reformas. Virou muleta retórica e até intelectual. Dispensa investigações mais aprofundadas e um pensamento original.
Aí, vem o presidente mexicano, Felipe Calderón, que está longe de ser esquerdista ou populista (as duas categorias mais anatematizadas do planeta nos últimos tempos), e decreta: "Nossos povos estão cansados depois de duas, três décadas de reformas. A pobreza continua aí, o meio ambiente se está deteriorando".
O que Calderón chama de cansaço é um dos fatores mais importantes que levou a maioria do eleitorado latino-americano, na catarata de eleições de 2006, a preferir candidatos identificados (real ou fingidamente) com a anti-reforma.
Para Calderón, é como se os judeus, cansados da penosa travessia do mar Vermelho, tivessem decidido voltar ao Egito e permanecer sob o jugo dos faraós, em vez de continuar até a Terra Prometida. A imagem seria perfeita não fosse por dois detalhes: a América Latina atravessa seu mar Vermelho há 500 e poucos anos e nunca chega à Terra Prometida.
Dois: não há indicações científicas de que seja uma cornucópia de mel a Terra Prometida, se entendida como o produto da conclusão de todas as reformas sonhadas pelo pensamento único.
Pegue-se uma só das reformas, talvez a mais martelada no momento, a previdenciária. Sempre que se fala dela, a percepção do comum dos mortais é a de que o andar de cima está falando de tunga. Vale o raciocínio para a reforma trabalhista.
A percepção pode ser incorreta, mas é a visão que se tem da Terra Prometida. Será preciso mais que Moisés para convencer seu povo a perseverar numa direção que não parece a do paraíso.

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