Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Alberto Tamer Com ou sem o PAC o mundo é belo

Calma, leitor, calma. Não vamos falar do PAC, não, pois este é um tema que ainda está sendo analisado nos centros econômicos mundiais. Eles lá fora são muito cautelosos, analisam, estudam, fazem e refazem cálculos, antes de tomarem decisões. Por isso, vamos aguardar que eles comecem, estudem direitinho tudo, e só quando algumas decisões de investimento não financeiro no Brasil tiverem sido anunciadas e iniciadas, é que voltaremos ao assunto... Afinal, somos ou não somos doutores, Ph. Ds. em planos fracassados?

O MUNDO É BELO!

Mas, afinal, qual é o tema dessa tal de coluna, Tamer, deve estar perguntando o já irritado leitor. É só para “encher lingüiça”? Nada disso. Esta é uma das colunas mais sérias que já escrevi. Ela pretende mostrar que o mundo vai bem, que a economia global deve voltar a crescer em torno de 5%. Em Davos, inicia-se a reunião repetindo um dos melhores resultados dos últimos 30 anos, com inflação mundial em torno de 2% e 3%, até menos, e juros animadoramente baixos e estimulantes. Já sei, já sei, você vai dizer que estou sonhando, pois não se vê nada disso aqui no Brasil! E é exatamente esta a questão que põe um ponto de interrogação em qualquer planejamento sério. Em Davos, está todo mundo feliz, menos nós. E não sei bem como o presidente Lula, sem o seu amigo Chávez, excluído, vai se haver lá... Haja conversa e jogo de cintura...

OLHEM AÍ, SENHORES

Mas em que se baseia esse otimismo? Afinal, são apenas previsões. Vamos ao fatos.

1 - O maior desafio que a economia mundial enfrentava foi superado. O preço do petróleo está superado. A economia mundial absorveu bem um preço de até US$ 74 o barril, e hoje ele despenca para US$ 50. E pode cair ainda mais.

2 - O grave desequilíbrio de crescimento, concentrado com forte expansão americana, retração européia e desaceleração em outros países, está sendo corrigido. A economia mundial está reduzindo sua dependência dos EUA, que importam o equivalente a US$ 2 trilhões por ano e representam cerca de 30% do PIB mundial e vêm numa aterrissagem equilibrada, sem provocar recessões.

3 - O PIB da União Européia, estagnado em torno de 1,2% há 4 anos, está crescendo a mais de 2% e, importantíssimo, a principal economia européia, Alemanha, aponta para 2,5%.

4 - No Leste Asiático, tudo caminha também para um novo equilíbrio, com a China crescendo 10%; os demais países, entre 5% e 8%; e até aquele adormecido e sonolento Japão está dando os primeiros bocejos de fim de sono. O eixo da economia mundial está mudando para o Leste Asiático.

MAS E O ORIENTE MÉDIO?

Ora, já foram superados os termos de uma crise mundial provocada pelas três guerras - a do Afeganistão; a invasão bárbara e criminosa do Kuwait pelo felizmente extinto Saddam Hussein; e a do Iraque. Ninguém pode afirmar que Bush estava certo ao fazer sozinho o que fez no Iraque, mas também só os de má-fé podem ignorar que a invasão do Iraque rompeu pelo meio o islamismo, reduzindo a sua ameaça aos princípios civilizados nos quais não há espaço para terrorismo.

SÃO VÁRIOS ORIENTES MÉDIOS

Foi como levantar a tampa de uma panela de pressão. Primeiro, está explodindo. Agora, esvaziando o vapor contido de ódios ancestrais. Sunitas, a maioria milionários (leiam o livro-depoimento Between Two Worlds (Entre dois Mundos), da ex-rica e poderosa iraquiana Zainab Salbi), xiitas espezinhados, mortos, barbaramente torturados (leiam o livro-reportagem 101 dias no Iraque, de Asne Selesrtad). É uma reportagem magnífica, absolutamente indispensável para quem quiser entender um pouco do Iraque, desse mesmo Iraque do demoníaco Saddam Hussein, que, além daquelas três guerras, travou mais duas, contra o Irã!

O que temos hoje no Oriente Médio é uma crise do islamismo menos ameaçador, com o não árabe Irã e a Síria de um lado e todo o resto do mundo islâmico regional do outro. Estão se matando entre si ensandecidos por seitas secularmente obsoletas, que em anos anteriores jogaram o mundo em uma das suas mais graves e terríveis recessões. E isso porque exatamente sob os pés desses religiosos fanáticos e atrasados, que se matam para ganhar um céu onde lhes será oferecida uma virgem por dia(está lá, no Alcorão) está quase toda a reserva mundial de petróleo.

Um petróleo barato, extraído a um custo de US$ 4 o barril e que chegou a ser vendido por US$ 74. Não fosse esse acidente geográfico, essa “islamização religiosa”do petróleo, eles estariam ainda hoje dormindo em suas tendas no deserto extenso e andando não de Mercedes, mas de camelos.

Exagero? Pois viajem para lá, como eu viajei, leiam qualquer história séria do Oriente Médio, e verão que estou até ameno demais. Quase carinhoso... Essa ameaça acabou porque, apesar de cinco guerras, o petróleo continua fluindo normalmente para os mercados consumidores e os preços voltaram a níveis razoáveis. E, mesmo assim, enchendo de dinheiro os cofres daqueles xeques e soberanos que não investem lá, mas no Ocidente, centenas de bilhões de dólares! Podem ser fanáticos, mas não são burros...

* E -mail: at@attglobal.net

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