Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Valdo Cruz - Independência, jamais



Folha de S. Paulo
26/1/2007

O Banco Central irritou muita gente, dentro e fora do governo, com sua decisão de diminuir o ritmo de queda dos juros. Saíram de cena os cortes de 0,5 ponto percentual. Agora a fase é de 0,25 pontinho por reunião.
Ruim? Para aquele espírito do "agora vai" que predominou no lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), sim. Baixar os juros numa escala maior transmitiria a sensação de que todo mundo no governo está no mesmo embalo, inclusive o BC.
Da autoridade monetária, porém, não se espera um comportamento de maria-vai-com-as-outras. Certa ou errada a decisão, o BC tem de se guiar por seus estudos. É bom que analise as reivindicações do mundo real, mas sempre terá de agir solitariamente.
Desse ponto de vista, a decisão pode ter sido boa. Sinalizou, mais uma vez, que, a despeito das pressões e desejos manifestados até publicamente, como no caso do ministro Guido Mantega, o BC seguiu sua trilha própria.
Se leva uma saraivada de críticas de um lado, por outro mantém intacta sua credibilidade de atuar tecnicamente. Algo nada desprezível no complexo mundo de políticas monetárias.
Internamente, gente do Banco Central diz compreender as críticas, mas avalia que poderia ser mais arriscado seguir nos cortes de 0,5 ponto percentual. Melhor reduzir o ritmo e manter sucessivas quedas nas próximas sete reuniões previstas para 2007.
Pior seria abortar o processo de queda no curto prazo. Isso, sim, teria um impacto muito negativo na economia e atrapalharia o PAC. Essa avaliação, por sinal, acabou predominando ontem no governo, apesar das críticas reservadas.
No mundo político, porém, o resultado já está mais do que dado: independência legal para o BC no governo Lula, jamais.

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