Débora Thomé (Interina) |
O Globo |
2/1/2007 |
Passados as festas, as retrospectivas e os discursos de posse, é hora de entrar em 2007. De preferência, com o pé direito, pois o Brasil precisa. As perspectivas para o país não são excelentes, mas melhores que o resultado de 2006: a expectativa do mercado é que o PIB cresça em torno de 3,5%. A economia americana reduzirá seu ritmo, mas, no cenário mais provável, não será nada que faça com que a produção mundial despenque. O ano passado começou com o mercado esperando que o país crescesse em 2006 os mesmos 3,5%. O governo queria mais que 4% e, apenas no fim do ano, aceitou que isso não era possível. No final, o crescimento não chegará nem aos 3%; o mais baixo entre os nossos vizinhos. As boas notícias ficaram por conta da inflação, que, mais uma vez, fechou o ano dentro da meta e em percentual bem abaixo do esperado; do saldo da balança comercial, que foi 20% acima do que se previa no início do ano; sem falar nas reservas, que chegaram a US$85 bilhões, e do risco-país, que bateu vários recordes. O dólar ficou mais baixo do que se calculava, fechou 2006 em R$2,13, o que pode ser considerado bom ou ruim dependendo de quem lê a notícia. Mas isso tudo agora já é passado. O mais importante é olhar para os 12 meses que vêm pela frente. A má notícia: os dados antecedentes da indústria e do mercado imobiliário indicam que a economia americana vai mesmo começar a desacelerar este ano. A boa notícia: será de uma maneira bem mais branda do que já se chegou a imaginar. Ainda deverá haver crescimento do PIB dos Estados Unidos em 2007; as previsões variam entre 2% e 3%. Os EUA são consumidores vorazes da produção mundial, então qualquer variação na sua capacidade de comprar tem impacto nas economias do mundo inteiro. O cenário de "pouso suave", como tem sido chamada essa desaceleração branda, é considerado hoje o mais provável, porém não está descartada uma queda mais brusca da economia dos Estados Unidos, que poderia, entre outras coisas, ajudar a derrubar o preço das commodities exportadas pelo Brasil. - Os riscos para este cenário de pouso suave estão nas dúvidas quanto à política monetária americana e ao que vai acontecer com o crescimento da China. O efeito riqueza vindo do mercado imobiliário nos Estados Unidos está caindo, e o consumo vai perder fôlego. Mas acreditamos que a China continuará crescendo bastante - afirma Nuno Câmara, do Dresdner, em Nova York. Ele espera um crescimento de 3,7% do PIB, que é acima da média de 3,5% do mercado, mas bem abaixo dos 5% sonhados pelo governo. - Deve ficar em 2007 mais próximo do dos outros emergentes, com exceção de China, Rússia e Índia. Mas enquanto o Brasil continuar tendo uma tributação de Europa, ele continuará com um crescimento europeu - diz. O economista do Dresdner acha que a queda dos juros no Brasil pode ajudar a atrair mais investidores estrangeiros para o mercado de capitais. Ele prevê que a Selic acabará 2007 em 11,25%. No relatório de mercado do Banco Central, a expectativa é de que a taxa feche o ano em 11,75%. Essa queda dos juros de maneira constante certamente ajudará o país a criar mais condições para crescer neste e nos próximos anos. O petróleo - outro fator que se precisa levar em consideração ao olhar o cenário mundial - é sempre uma incógnita. Além da enorme especulação nos papéis e do fato de as maiores regiões produtoras terem problemas geopolíticos crônicos, há também as intempéries, como os furacões. Se depender só da demanda, que tende a diminuir num ano em que o crescimento do mundo deverá ser menor, a tendência é que o petróleo fique em preços médios mais baixos que os de 2006; oscilando em torno dos US$60. Em geral, os preços das commodities não-agrícolas aumentaram bastante nos últimos anos. Em 2007, eles tendem a estacionar, o que pode ser ruim para o Brasil, exportador de algumas delas. O dólar, mesmo estando muito baixo, não deve variar muito de patamar. Considerando esses fatores, para a balança comercial, é esperado um saldo em torno de US$38 bilhões. É menos que o de 2006, mas, ainda assim, bom. As commodities continuarão sustentando as exportações; o impacto no saldo virá porque as importações devem crescer mais que as vendas para o exterior. A indústria pode crescer acima dos 4%, a inflação, novamente, tem grandes chances de ficar dentro da meta, e o risco-país deve manter seu bom caminho, mas há vários riscos no front. O crédito a pessoa física está chegando ao seu limite; o endividamento tem aumentado e os economistas já dizem que ele não é sustentável. A situação de alguns setores da agricultura melhorou, mas deve continuar complicada em 2007. Os juros têm caído, mas ainda são altos. Há o grave risco do apagão logístico, pela falta de investimentos e de uma gestão eficaz; sem falar nos riscos de uma nova crise energética mais adiante. Neste ano pós-eleitoral, o governo tem que ficar atento para não repetir a gastança do ano que passou; a questão fiscal é preocupante. Também será preciso cuidar logo das reformas, e não contar apenas com pacotes mágicos - ou "programas de aceleração". Para estes próximos quatro anos, o presidente terá que estabelecer planos e metas factíveis, e evitar o provisório. Não há mais tempo para adiar; o Brasil tem pressa de crescer. CAROS LEITORES, despeço-me hoje desta breve interinidade. Amanhã volta à coluna a nossa titular, Míriam Leitão. Até mais. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, janeiro 02, 2007
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